Dividido em três atos, Moonlight conta a história de um rapaz, que poderia ser qualquer um, vivendo em qualquer país, com as mesmas questões e a mesma maneira de crescer. Atemporal e (quase) Universal, definem muito bem essa empreitada fílmica, cheia de momentos de verdadeira poesia.
Com uma bela fotografia e edição primorosa Moonlight é um daqueles filmes que, apesar do ritmo mais lento, ganham ritmo e uma fluidez interessantes, transformando essa série de momentos da vida do protagonista, numa narrativa que merece ser assistida e apreciada. Não é um filme de final de semana, nem mesmo um filme fácil, mas tem força própria e um jeito que arrebata.
Dirigido por Barry Jenkins, acompanhamos um garoto chamado Chiron em três partes de sua vida. Separados por anos de diferença, vemos o menino apelidado de 'Lil, o adolescente Chiron e o adulto Black mostrarem suas semelhanças e suas diferenças, de modo que temos certeza de ser uma vida marcada por questões não resolvidas, traumas repreendidos e a eterna busca de quem se é.
Talvez uma das mais interessantes abordagens adotadas em Moonlight seja a forma como as divisões dessa vida são feitas, ao mesmo tempo que conectadas. Não são apenas os acontecimentos que marcam essas mudanças, mas o próprio personagem, que nos rege enquanto ele desvela o mundo e confronta as suas inquietações de diferentes formas.
No Ato 1, a história de 'Lil (Alex R. Hibbert) é um emaranhado de referências de obras passadas, como Preciosa, Um Sonho Possível e Boyhood, acalcadas na narrativa de um menino que não se encaixa na sua própria realidade, que vive com uma mãe que o ama, mas que é relapsa e problemática, até a aparição de um guardião e que muda a vida dele para sempre.
No Ato 2, Chiron (Ashton Sanders) se foca em encontrar quem ele é de verdade. A busca é pelo que o define como ser humano e o que ele quer ser, mas ainda sendo seriamente perturbado por questões não respondidas em sua infância. É perceptível a mudança de tratamento dele com a sua mãe (Naomie Harris, que está esplêndida nesse papel), já que ele entende, finalmente, qual o problema dela. Além disso, as questões inerentes à essa idade, como sexualidade, medo de ir embora e aflições de ser o único diferente, se encontram com traumas passados e traumas que ainda se configurarão.
Finalmente, no Ato 3, ficamos de frente com o adulto Black (Trevante Rhodes), que se tornou o espelho da única pessoa que ele realmente criou um laço e que admirou a ponto de querer ser. Black é uma amálgama de problemas estruturais e questões em aberto, mesmo que na sua aparência não seja tão claro de se ver. O que apenas mostra que sua personalidade é conflitante e suas crenças não parecem muito claras, nem mesmo para ele. Ele ainda não sabe quem é, mas uma ligação pode mudar isso...
Essa divisão no roteiro o torna interessante e nos faz querer entender mais intensamente a mente e a vida desse homem, mas compreendendo que aquela é uma vida que se seguiu e que, apesar de não aparecer diretamente, teve vários momentos tão importantes quanto aqueles. Somos convidados, até, em fabular sobre ela. Na busca por si próprio, Chiron viveu muitos momentos inesquecíveis, mas na constituição de si, apenas alguns momentos contaram e são exatamente esses momentos que o definiram inteiramente.
Com uma forma de direção delicada e sensível, Barry acerta o tom com um filme de diversas camadas, diversas questões complicadas e vai na medida em como retratar isso na tela, já que o garoto (nas suas diversas idades) é mostrado, não só com ternura e delicadeza, mas com força e até crueldade. Em cada novo momento que desvelamos uma parte da vida de Chiron, é um novo momento que nos deparamos com a sua potência.
Definitivamente é um filme marcante.
Pitacos: Fiquei simplesmente fascinada com a fotografia desse filme. Com tons roxos e azuis, englobando o todo, é simplesmente lindo de ver. Tem a minha total torcida para essa categoria e de direção, uma vez que é possível ver e até sentir a mão de Barry nos enquadramentos e nas escolhas de contar essa história. É possível que ganhe a de ator coadjuvante, já que Mahershala Ali está incrível nessa obra, além de ter brilhado também em Hidden Figures. Apesar da Trilha primorosa e edição incrível, é improvável que leve, ainda mais concorrendo com La La Land e A Chegada, respectivamente. É meu atual favorito para Roteiro Adaptado.
Indicações: Melhor Filme, Melhor Direção, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Fotografia, Trilha Sonora, Roteiro Adaptado, Edição.
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