Entre as palavras que poderiam definir Capitão Fantástico, escolhi três, que acho resumirem muito bem do que o filme se trata: valores; família e utopia.
Quero começar esse review contando para vocês, que desde que vi o trailer desse filme senti uma necessidade irremediável em assisti-lo. Isso porque histórias profundas envolvendo família, mexem comigo intensamente e, mais ainda, histórias profundas de família que tenham um quê de aprendizado e de levar a gente a pensar nossas próprias crenças do que é criar pessoas para o mundo.
Então logo de cara, a mensagem que Capitão Fantástico passa para quem assiste, é de que é preciso ter confiança naquilo que se ensina para os filhos, mas mais do que isso, é preciso acreditar na forma que seus filhos assimilam o que está sendo ensinado.
Banhados por essa lógica, Ben (Viggo Mortensen) e Leslie (Trin Miller) resolvem largar a cidade e se mudarem para o meio da floresta, onde criam seus filhos Bo (George MacKay), Vespyr (Annalise Basso), Kielyr (Samantha Isler), Zaja (Shree Crooks), Rellian (Nicholas Hamilton) e Nai (Charlie Shotwell). Vivendo em uma utopia baseada nas suas crenças como um casal, mas principalmente naquilo que Ben prega como sendo ideal, essa nada convencional família vive sob um regime restrito de regras, horários e alimentação; ao mesmo tempo que vivem de modo livre, franco e sincero, em termos de expressão, conhecimento e pensamento.
Eventualmente, ficamos sabendo que esse modo de vida foi demais para Leslie, que acaba ficando doente e indo se tratar na cidade, com o apoio de seus pais. Também passamos colocar em perspectiva, ao lado de Rellian, se essa vida que eles levam é uma vida "certa" para se viver, de modo que a diferença fica ainda mais gritante quando Ben e seus filhos vão passar um final de semana na casa da tia Harper (Kathryn Hahn) e de seu marido Dave (Steve Zahn). Nessa sequência de cenas, nós nos sentimos como Harper, questionando as ações de Ben e procurando uma argumentação plausível para que ele passe a considerar levar as crianças para uma escola comum, ou mesmo entender que saber caçar e escalar, não são, exatamente, atrativos no "mundo competitivo do trabalho".
Mas afinal de contas, o que é estar preparado para o mundo?
De modo esperto, o filme nos conduz a reflexão disso diversas vezes, seja através dos afiados diálogos entre Ben, seus sogros (Frank Langella - Frank e Ann Dowd - Abigail); entre Ben e seus filhos e entre os seus próprios filhos; seja quando traz a tona questões sobre estabilidade, criação, ensino e crescimento e é aqui que encontramos algumas das cenas mais lindas desse longa-metragem. Na intensidade da crença de Ben, banhados pelos seus olhares e suas atitudes desafiadoras, Viggo brilha, dá peso ao roteiro terno, porém pesado e retorna ao que veio pregando como valores desde o início do filme.
Com uma franqueza que desestabiliza, é possível ver nesse capitão fantástico e nos seus métodos nada ortodoxos de criação, uma veia daquilo que parece ter sido perdido há muito: a real vontade de trazer o extraordinário dos seres humanos à tona, enquanto cria e coloca em prática o sonho de um lugar melhor, uma vida digna e não esquecimento do que é realmente importante: viver tudo que tiver para viver, mesmo com todas as distrações contemporâneas.
P.S: Me emocionei muito com a versão de Sweet Child o' mine deles.
Pitacos: Mesmo com uma brilhante atuação por parte de Viggo, acho um pouco difícil que ele ganhe de Denzel, que está muito bem cotado para faturar essa estatueta. Além de Denzel, quem também corre pelas laterais é Casey Affleck, que parece estar impressionando em Manchester à beira-mar. Estamos de olho, mas até agora Viggo é nosso favorito.
Indicações: Melhor Ator
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