Existe mesmo essa história de procurar por amor?
Quero dizer, a gente já procura por um monte de coisas, a chave do carro que está em alguma bolsa, a carteira de motorista que deve estar naquela carteira que você usou no sábado, aquele batom perfeito, o sapato pra combinar com aquele vestido que você mandou fazer para usar no casamento da prima da sua mãe, o melhor ângulo para uma foto de DIVA* com as suas amigas e a padaria que faz aquele bolo de chocolate que você comeu no aniversário do seu irmão. Muitas coisas, mas isso é só pra começar a lista, porque na verdade, entre achados e perdidos, recorrendo a São Longino, ou não, você sente essa necessidade de procurar.
Catar.
Caçar.
Será que é assim que a gente tem que se dirigir ao amor? Catar, Caçar...e por aí vai, entre as incontáveis palavras que remetam à Procura. Será que que é possível mesmo, encontrar o amor em qualquer lugar?
Não sei, mas ao mesmo tempo que aquele velho ditado: "Quem procura, acha", faz sentido para muitas coisas, não parece fazer sentido para essa busca, em particular. Talvez porque entre os diversos romances e histórias que a minha mente fílmica me fez lembrar, o amor aconteceu por acaso, como uma peripécia do destino, malemolência do carma e escrituras estrelares. O amor aconteceu durante o dia em que ele entrou na cafeteria errrada, ela derramou café nele e os dois riram de como as coisas são por acaso. De repente eles se encantam, de repente eles se beijam e de repente eles se amam para sempre.
Mas novamente, são essas referências fílmicas que fazem a gente achar que o cara que virou a esquina poderia ter a estatura do Channing Tatum, o sorriso do Theo James, o olhar do Jamie Dornan e o sotaque do Bennedict Cumberbatch. Então você cria expectativas. Então elas são frustradas, porque a realidade é a realidade, sendo ela com ou sem um Benny para dar xavecos intermináveis com sotaque britânico ao pé do ouvido. Realidade essa que parece-me tão confusa para se colocar lá, à risca.
Sim, 'to put yourself out there', dar a cara a tapa mesmo. Pegar um caminho diferete, sorrir com os olhos para um estranho no metrô e etc. Só que, volto a me incomodar, o amor se procura?
Você consegue procurar por um sentimento que, em teoria, precisa ser conquistado, construído e regado? Você consegue procurar por algo que é tão abstrato que tem gente que compara com um 'fogo que arde sem doer'? Você acha que dá para procurar pelo risco de correr uma maratona, sem ter linha de chegada? Você acha que dá para comprar a 'briga' de existir com o outro e não para o outro?
Você mesmo acha que isso é amor?
Porque você o quer. Sim, quer viver profundamente a vida com alguém, mas sei lá, vai que não vale a pena, então prefere não perder o frisson dos novos encontros. Então você caça. Cata uma razão para se apaixonar de novo, cata um lugar novo para tomar uma cerveja, cata um sentimento de novidade para te fazer sentir completa, enquanto troca mensagens no whatsapp que te avisa que ele visualizou. Respondeu?
Caça um cara que queira te fazer mulher e sai insatisfeita, caçando de novo, porque não era o que você procurava. Caça na balada. Cata no barzinho. Alô São Longino, se encontrar um amor, dou três pulinhos...
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Nada.
Não sei, mas talvez o grande problema esteja em 'caçar' e 'catar'. Não em procurar. Ou talvez seja essa ânsia da nossa geração, de fazer um minuto determinante de toda uma narrativa. Foda que essa é a nossa narrativa...
*DIVA - Departamento de Investigação da Vida Alheia, ou fofoca organizada.
Um comentário
Feliz mesmo é quem ama o que tem, e não quem caça o que amar, minha flor! O texto tá muito gostoso, parabéns. Saudade.
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