Eu fui na Chuva mesmo

2 atores. 2 cadeiras. Poucos recursos multmídia, mas um aparato de maior força e alcance, que qualquer slide show: um texto bem escrito.

A grata surpresa da semana foi ter vencido o trânsito e a preguiça, depois de um dia acadêmico e cheio de pensamentos sobre a comunicação como área de conhecimento, e ter presenciado o último dia da peça Chuva Constante, aqui em Belo Horizonte. A peça é uma tradução do texto de Keith Huff, Steady Rain, que também é autor nas maravilhosas séries Mad Men (S2) e House of Cards
Na adaptação Brasileira, temos a potente e digna tradução de Daniele Avila Small, direção de Paulo Marques e as atuações Malvino Salvador e Augusto Zacchi, tudo convergindo para entregar aos espectadores uma história intensa, altamente descritiva e institivamente humana, desde o seu início 'menos' complexo, até os eu desfecho levemente perturbador.
Na sinopse oficial lemos: Dois policiais, companheiros e velhos conhecidos, se veem envolvidos em uma série de acontecimentos que afetará suas vidas para smepre. Não só a amizade é posta à prova, como também a escala de valores, a honra e a lealdade. Eles dão sua definição particular do que é a família, assim como as questionáveis decisões que tomam em nome dela. Mas a lembrança de cada um sobre o que realmente aconteceu naqueles poucos dias, em que uma chuva constante não parou de cair, não é necessariamente igual para os dois.
E bom, longe de ser crítica de teatro, até porque não tenho nem cacife, nem experiência para tal, tinha que dividir com vocês as minhas opiniões sobre o todo dessa obra, não apenas porque me lembrou demais Mad Men (que é uma das minhas séries favoritas), mas porque me fez pensar e repensar sobre o que tinha visto ali, consecutivas vezes, nas horas que se seguiram ao seu final. 

Para começar, o que torna tudo mais intenso é a potência com que os acontecimentos vão sendo elencados, trazendo em discussão a índole dos personagens, suas motivações e como eles se situam dentro das mudanças que são 'empurradas' sobre eles, nunca se esquecendo da ideia de que eles são amigos de infância e do bom e velho ditado: "aqui se faz, aqui se paga".
Com a mesma decisão de nunca julgar os seus personagens, também presente em Mad Men, Chuva Constante dá margem para múltiplas interpretações do que é caráter, o que te faz ser uma pessoa boa, até que ponto algo é inato do ser humano e até que ponto são atitudes adquiridas, a partir do meio social e as condições em que se vive. Ainda mais, sem a pretenção de levantar polêmicas ralas, o texto, claramente, deixa em aberto tais possibilidades de crenças, sendo dos próprios atores a responsabilidade pelo corpus de seus personagens, que podem usar de forças variadas, indo de um simplório relato de um jantar qualquer e uma tv cadastrada no ibope; até o assassinato a facadas e um bebê dentro de uma sacola plástica. 
O texto de Keith ganha potência, ganha persoanlidade e nos faz viajar entre as construções de ficções descritas por Danny (Malvino Salvador) e Joey (Augusto Zacchi), que parece ser ficção para eles mesmos, quando optam por relatar imagens sobrepostas à sentimentos, nos dando a completa visualização dos momentos em que eles estão envolvidos, desnudando para nós toda a complexidade humana, indo além de dicotomias pré estabelecidas e de respostas prontas. Talvez porque não tenhamos mais as perguntas prontas.

O minimal, onde poucos recursos estão presentes, além da interpretação e das duas cadeiras, faz um contraponto interessante entre essa riqueza humana, esbarrando-se na própria contrução dos personagens, que nos fazem vê-los como duas faces da mesma moeda, mas que, ao mesmo tempo, se anulam, uma vez que um deles sempre será mais 'completo' que o outro, sendo preciso um comportamento de 'papel em branco' de um, ou mesmo o desaparecimento do outro para que a chuva seja superada, usando a metáfora da obra.
Danny e Joey vivem uma simbiose confortável e por isso precisam de um gatilho para que isso seja cortado. Afinal, quem deseja se tornar uma sombra do outro? Ou mais ainda, quem deseja se tornar o outro?
Quanta chuva você seria capaz de enfrentar para proteger, vingar e salvar quem você ama? Você faria qualquer coisa?
Quaqluer coisa por eles...

Bravo!

P.S: Saiba quando e se a peça irá para a sua cidade na fanpage oficial deles. Se for para a sua cidade, não deixe de presenciar! Você vai se surpreender!

Um comentário

Lucidez Feminina disse...

Só pela sua opinião sobre a peça, já fiquei com vontade de assistir. Um dos hábitos que eu tenho que começar a adquirir, é ir assistir algumas peças teatrais deixar um pouco de ir só no cinema.

O engraçado é que logo que cheguei em Monteria (Colômbia), já fui perguntando para o pessoal se tinha algum teatro na cidade. E para minha infelicidade não, só tem em cidades maiores. Mas valeu a intenção de perguntar hahaha.

Beijos, Gabi