Talvez o filme mais bem cotado da temporada seja La La Land, um musical recheado de melodias esperançosas e um pouco do que queremos encontrar nos nossos sonhos e vontades.
Damien Chazelle ficou muito bem quisto depois do excelente Whiplash e parece que a sua inspiração musical/cinematográfica e a união dos dois não terminou ali, de modo que La La Land é uma obra musical com sonoridade própria, e com jeito de que veio para marcar os musicais contemporâneos. Além disso, é perceptível como Chazelle quis fazer referência à obras anteriores como Cantando na Chuva, Cinderela em Paris e até mesmo Moulin Rouge. Musicais que foram separados por períodos diferentes, histórias diferentes e propósitos diferentes, mas que tinham em comum um enredo mágico, romântico (não apenas no sentido amoroso da palavra) e que eleva-nos ao estado de sonho e encantamento. Sim, La La Land tem tudo isso, mas não morre em referências, já que conta uma história totalmente sua e verdadeiramente atual.
Já pelo próprio nome dá pra ter uma ideia do que vai vir por aí, uma vez que esse nome faz tanto uma analogia à Los Angeles (onde estão as maiores maiores estúdios de cinema dos Estados Unidos), e também pode significar uma terra musical, sendo que é nessa terra musical que encontramos o sonhador Sebastian (Ryan Gosling) e a adorável aspirante à atriz Mia (Emma Stone). Ambos os personagens mostram um pouco do que LA chama para dentro de si, ou seja, pessoas que querem encontrar o seu lugar ao sol. Pessoas que sonham com o estrelato (fazendo uma clara referência ao clássico Fame), mas não apenas isso. São pessoas sonhadoras, que querem ser reconhecidas por seu talento e por tudo o que têm a oferecer ao mundo da arte. Logo, La La Land tem um charme todo marcante para a própria Hollywood, já que presta uma evidente homenagem a ela, não sendo preciso ir longe para entender porque a obra está sendo tão querida pela academia e por outras premiações, especialmente as que acontece nos Estados Unidos.
Mas fora o fato de prestar essa homenagem, La La Land é um filme adorável no seu todo, com personagens relacionáveis e uma história que poderia ser contada em qualquer lugar e de várias maneiras, sendo talvez por isso que esteja tão próxima do grande público. É verdade que fazia tempo que não víamos um musical tão modesto e ao mesmo tempo tão mágico, arrisco dizer que não me sinto inspirada por essas características, desde os musicais mais clássicos, que foram o frisson nos anos 40, 50 e 60 nos estúdios hollywoodianos, estrelados por Gene Kelly, Debbie Reynolds, Audrey Hepburn, Fred Astaire e Ginger Rogers. Se levarmos em conta os últimos musicais que ganharam destaque, todos tinham consigo o fator Broadway e o fator espetáculo conectados a si, tudo tinha que ser muito grandioso, desde Moulin Rouge, passando por Chicago, até Os Miseráveis.
Talvez La La Land se diferencie por trazer em pauta o romantismo da magia das coisas, já que em cada uma das cenas, o que nos arrebata é o fato de que ainda é possível se encantar com o mundo ao seu redor, mesmo que seja numa "fábrica" de sonhos, como Hollywood. A paixão dos protagonistas, assim como aquilo que os move, as escolhas que eles fazem e aonde eles chegam, são basicamente movidos pela concepção romântica de que é possível chegar lá, se for isso que o seu coração realmente quer. Um traço bem disneyano desse filme, devo dizer.
O casal de protagonistas é terno e conquista, tem uma química interessante, mas talvez não seja a parte mais importante desse filme. As músicas, os cenários, os figurinos, os enlaces e o roteiro, para mim, sobrepujaram Ryan e Emma, que apesar de excelentes, somam esforços no filme, mas não se destacam verdadeiramente. O jogo dos protagonistas, dentro do seu relacionamento, me lembrou muito o de Anna Kendrick e Jeremy Jordan em Os últimos cinco anos, um musical cativante, que infelizmente não chamou tanto a atenção, mas que também traz personagens estranhamente seguros de si e com vontades próprias, mesmo que sejam movidos por suas paixões, inclusive a de um pelo outro e pelos seus sonhos. Em relação direta esses dois filmes contam como sucesso, amor, notoriedade e sonhos se cruzam em vários parâmetros, principalmente para determinar aquilo que somos e aquilo que passamos a ser.
De fato, La La Land é baseado nessa ideia de que a nossa constituição como seres seres humanos se dá por aquilo que nós almejamos e até mesmo naquilo que sentimos falta, no sentido mais nostálgico do romantismo, fazendo-nos lembrar de experiências que estão sumindo, ou se tornando outra coisa, como a experiência de ir ao cinema, ao planetário, conversar longamente com alguém sobre tudo, algo, qualquer coisa; caminhar sem rumo numa cidade qualquer, ou a de ouvir uma música e se tocar com aquilo. Um brinde aos românticos!
Pitacos: Franco favorito da temporada, atualmente é o que detém as minhas apostas de Melhor Filme. Além dele, deve faturar Direção de Arte, Figurino, Canção Original (para City of Stars), Trilha Sonora e Roteiro Original. Ainda não aposto todas as minhas fichas na direção, mas fico com a impressão de que é provável que leve também, tudo depende de como Moonlight for recebido pelo mundo. Com Denzel e Viggo, concorrendo na categoria de ator, acho difícil Ryan levar; idem para Emma, que está na disputa com Meryl, Isabelle e Nathalie.
Indicações (recorde de indicações de um filme nessa premiação): Melhor Filme; Direção; Atriz; Ator; Fotografia; Mixagem de Som; Figurino; Edição de Som; Direção de Arte; Trilha Sonora; Canção original; Roteiro Original; Edição
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