Escrito em 2 de junho de 2012 aqui nesse blog, o post "Então sou uma Amélia" é o texto mais lido de toda a história do Mesa. Seja porque usei imagens de pin ups, seja porque usei "Amélia" no título, o que importa mesmo é que esse foi o meu primeiro post sobre o tema Feminismo e desde então o tema só foi crescendo e se tornando mais e mais relevante na minha vida. Logo, senti a necessidade de tentar atualizá-lo e talvez trazer umas questões que tenho observado e que têm me chamado muito a atenção.
Vale acrescentar logo de cara, que não se trata de um post definitivo, porque assim como quem leu "Então sou uma Amélia" sabe, esse é um assunto que sempre traz muita atenção para si, da mesma maneira que inflama um monte de gente que já se posicionou de um jeito bastante extremo e irredutível. Fora que é um tema que se renova e que traz mais e mais questões para si.
Para tornar o negócio mais fluido, resolvi trazer cinco observações e aprendizados sobre o Feminismo. Então vamos lá:
01 - Femismo não é Feminismo e nem o Feminismo é oposto do Machismo.
Oi?! Mas o Feminismo não foi "criado" para acabar com o machismo? De uma certa forma esta afirmação está correta, mas de outra não exatamente. Isso porque o feminismo não veio para pregar as ideias opostas as do machismo e sim de contestá-las, abordando uma perspectiva de igualdade de direitos (e deveres), que perpassam pela compreensão de que todos devem ser vistos e tratados da mesma forma, independente do sexo. Femismo, sim, leva as ideias do machismo para o seu total oposto, colocando as mulheres como seres superiores aos homens e merecedoras de mais. Normalmente, os discursos extremos partem de vertentes feministas inebriadas pelas ideias femistas e acontece que, muitas vezes, essas pessoas são impossíveis de conversar e, também, enfraquecem a frente de luta de mulheres que realmente incorporam o sentido de igualdade.
Ao final disso, deixo a pergunta: homens (sejam gays, heteros, trans, pans, etc) podem ser feministas?
02 - Empoderamento e o reforço do conceito de si.
"Empoderamento" tem sido uma das palavras mais repetidas nos últimos anos, provavelmente porque ela carrega consigo uma potência equivalente ao seu significado semântico. Se pensarmos sobre o assunto, perceberemos que causas importantes, especialmente no que se diz respeito ao que vemos na mídia, tem feito parte da agenda. É o suficiente? Não! Precisamos de mais ainda, SIM! O Empoderamento não é apenas colocar em um comercial vários "tipos" de corpos femininos, várias personalidades de "cores" diferentes, e/ou diminuir o uso de maneirismos sociais e estereótipos enraizados. Empoderamento passa pelo reforço de quem se é, assim como o conceito de si mesma é incorporado por onde nos vemos e nos sentirmos representadas. Quanto mais variedade, mais próximo de "humano" as coisas ficam.
03 - Sororidade, mesquinharia, haters e "bela, recatada e do lar".
Uma vez eu vi em algum desses perfis de instagram de vlogger, que "haters sempre vão existir" e que "não podemos ficar perdendo tempo com pessoas tão mesquinhas assim". De uma certa maneira, isso é verdade. Pessoas para questionar, para criticar e para dizer com todas as letras que se sentiram incomodada com algo que você fez, postou, ou representa, sempre vão existir. Especialmente aquelas que ganham um doentio prazer em fazer isso de um jeito mesquinho e maldoso. Sim, a internet está cheia de gente assim, mas não só lá. O pensamento de que alguém é melhor (ou pior) do que outro alguém, assim como a diminuição de uma pessoa para que ela "se equipare a um ideal negativo, ou menor, que só existe na sua mente" são elementos do dia a dia. Mas será que tinha que ser assim? Uma coisa que aprendi com o feminismo, é que o pensamento negativo (seja gordofóbico, racista, ou de religião, etc) sobre outra pessoa apenas enfraquece a noção de igualdade e unidade que o feminismo carrega em si. Para ver-se igual ao outro, é preciso ver o outro igual a si, e isso passa pela vontade de conhecer o outro, pela empatia e pelo companheirismo. E não apenas entre mulheres, mas já que somos tão cruéis conosco mesmas e com nossas irmãs, porque não começar por aí, talvez respeitando a escolha da outra?!
04 - Lutar pela sua luta, que vem da sua essência e não questionar a essência da luta da outra.
Um dos vídeos da Jout Jout que mais me marcaram, foi um bate papo que ela teve com Nátaly Neri sobre os diferentes tipos de feminismo. Eu falei, inclusive, no infame texto "Então Sou uma Amélia" sobre essa área cinza de nuances que a própria dicotomia entre feminismo e 'ameilismo' não dá conta, de modo que ainda causa muita discórdia e conflito entre as próprias mulheres, que muitas vezes não entendem que a luta de uma, não é necessariamente a luta de todas. E isso não enfraquece o movimento, só mostra que existe um leque de lutas e identificações ainda mais amplo e extenso. Justamente nesse vídeo, eu fiquei ciente de uma diferença, por exemplo, entre o feminismo branco e o feminismo negro. Uma luta não inviabiliza a outra, ou é mais importante que a outra.
05 - A cultura do estupro e não vamos chamar todos os homens de estupradores em potencial.
Se tem uma coisa que a gente aprende com o feminismo, conforme vai levando ele mais a sério, é que os direitos iguais não devem ser vistos apenas para as mulheres, mas também para os homens. Assim como a gente não quer ser alcunhada de "pedaço de carne", "objeto", "delícia", "gostosa" e variantes, homem nenhum quer ser chamado de estuprador. Sim, vivemos em uma sociedade que precisa criar seus filhos de modo igualitário, entendendo que o respeito deve ser mútuo. E sim, ainda vivemos em uma sociedade em que homens receberão vantagens por terem um pênis. Mas não, não temos inveja do Pênis (sorry, Freud), o que buscamos é que o pênis não seja uma vantagem, muito menos uma "ditadura". Muitos homens já internalizaram isso, muitos aprenderam isso do berço. Outros tantos pregam-se simpatizantes e se repreendem ao soltarem machismos impensados. Se estamos em busca de uma sociedade igualitária (por mais utópico que isso ainda seja), temos que viver sob essa vontade, para termos uma chance de chegar lá. Mulheres poderosas sim! Por favor! Mas homens poderosos também? Com certeza. O empoderamento correto e a compreensão de que gente é gente e por isso merece respeito, independente de ser quem se é, para mim, é a melhor maneira de combater a permissividade de uma violência sexual contra quem quer seja.
*Quero deixar claro que sou idealista e ainda acredito na sociedade, obrigada.
Recomendações lindas:
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