Filme que foi vendido como uma boba história de paixão adolescente, na verdade guarda em sua narrativa momentos de reflexão sobre questões universais e que não têm idade, tais como "quem sou?", "qual é o meu lugar?" e "qual o meu papel aqui?". Este é O Espaço Entre Nós.
Num futuro não muito distante do nosso, um grupo de pessoas é enviado a Marte, mas não com o intuito de colher amostras e voltar para a Terra e sim habitar e realmente colonizar o planeta. O projeto foi financiado e planejado pelo ambicioso engenheiro Nathaniel Shepherd (Gary Oldman), em parceria com a NASA e liderado pela obstinada Sarah Elliot (Janet Montgomery). No entanto, antes de chegar ao planeta vermelho, Sarah descobre que está grávida e é assim que o primeiro marciano, Gardner Elliot (Asa Butterfield) vem ao mundo.
Criado por cientistas que vão e vêm, Gardner faz apenas uma amiga real, mesmo que virtual, Tulsa (Britt Robertson), uma terráquea, meio mal humorada, que se comunica com o rapaz pela internet. Impulsionado pela vontade de conhecê-la e talvez viver um romance, assim como pela vontade de sair de sua bolha, o garoto se joga de corpo e alma na oportunidade de vir à Terra, onde pretende encontrar as respostas para as suas questões mais profundas.
Não é preciso dizer que, por ter nascido em Marte, Gardner é influenciado por diversos fatores ambientais completamente diferentes da terra, como a gravidade, a temperatura e a luminosidade, de modo que o tornaram um ser humano diferente, na constituição biológica, mas no que se refere às questões filosóficas de existência, bem como a vontade de explorar o mundo e se sentir parte de algo, não poderia existir humano mais humano que ele. Essas mesmas questões, na verdade, são as forças motrizes dessa narrativa tocante e doce, mesmo que numa primeira visada o romance dos dois adolescentes parece ser o mais relevante.
Gardner tem fome de conhecer, de saber, mas mais do que isso, tem fome de saber até onde pode ir, sem que esteja preso por uma roupa de oxigênio e por câmera vigiando seus movimentos. Ele é um eterno curioso e se fascina em explorar, de modo que pergunta para todos que cruzam o seu caminho: "Do que você mais gosta na terra?", revelando sua incessante necessidade de se conectar e se encontrar, principalmente num lugar em que, aparentemente, as relações são mentirosas e fugazes, como na Terra.
Na personagem de Britt, é que essa crítica aparece e se estabelece, mostrando o quanto o descaso, as incertezas e o "manter as aparências" podem prejudicar diversas relações e até fazer as pessoas deixarem de acreditar uma nas outras. A contrapartida de Tulsa, madura para sua idade, descrente do mundo e 'dona da verdade', é justamente Gardner, que está disposto a amar, se encontrar e acreditar.
Apesar do estilo em elipse do roteiro, em que um acontecimento é seguido de outro e outro e outro de forma até fugaz, é possível extrair momentos importantes na trama, dando um mérito aos atores Asa e Britt, que vão construindo uma química a partir de uma amizade e de uma convivência de "ganhar espaço". Ao contrário do que vemos muito comumente em obras de "garoto encontra garota", O Espaço entre Nós prefere se focar no relacionamento que vai se formando conforme o tempo, as amarras e os muros vão passando e sendo vencidos e isso é possível ver fortemente na estética de Peter Chelsom, que adora uma comédia romântica.
Mesmo assim, é importante ressaltar que os atores adultos, como Gari Oldman e Carla Gugino são jogados para o lado, não tendo espaço suficiente (com o perdão do trocadilho) para que eles se tornem mais densos. As cartas foram realmente gastas na dupla adolescente.
É uma pena que as questões de ficção científica tenham ficado à segundo plano, também, seria interessante explorar mais do que Marte se tornou ao estar sendo colonizada, bem como entender melhor do passado e das motivações dos personagens. Pelo ritmo da trama tudo corre rápido e é preciso prestar atenção para pegar as nuances embutidas ali, porque elas existem e foram feitas, mas não concluídas e realmente exploradas.
Com uma fotografia lindinha, embalada por uma excelente trilha sonora, talvez um dos maiores ganhos de O Espaço entre Nós seja realmente o passo que se dá em direção de um romance adolescente não tão clichê, ressaltando alguns aspectos humanos e mostrando que, mesmo há anos-luz de distância, somos fascinados pelo quê nos constitui como gente, enquanto buscamos onde pertencemos....
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