Um filme que se suporta sobre 3 pilares: atuações excepcionais, uma montagem excelente e um enredo bem construído, Três anúncios para um crime parece ser, mesmo, um dos grandes favoritos da temporada.
Sendo uma das grande estrelas da época de premiações deste ano, Três anúncios para um crime é um conjunto coeso de ação filmográfica, aliando um roteiro que evolui através dos personagens, uma edição que constrói enlaces de momentos em aberto e um elenco que dá a dose certa de potência aos seus personagens.
Se levarmos em conta o contexto atual de Hollywood (com suas denúncias contra assédio sexual, várias carreiras destruidas por tais situações e diversos casos sendo escancarados), Três anúncios para um crime não poderia ter vindo em melhor hora, já que, entre as várias questões que levanta, chama a atenção a crítica velada (porém presente) de uma população que finge não ver a ineficiência na resolução de crimes como esses.
O fato de ser Mildred (Frances McDormand) questionada pelos outdoors que coloca na cidade e não a polícia, mais especificamente Bill Willoughby (Woody Harrelson), traz essa questão com força, pois a coroa como vilã de uma história em que ela só quer um desfecho. Além disso, a postura dura e quase anti-feminina de Mildred também incomoda a cidade, sendo ela rotulada como essa mulher que não sorri, "perdeu" o marido para outra, e que "obviamente" não tinha condições de manter uma família sozinha. É quase como se ela fosse culpada pelo que aconteceu com a filha.
"Estuprada enquanto morria" // "E ainda nenhuma prisão?" // "Como, chefe Willoghby?" |
Pouco é comentado (ou mesmo levado em conta pelos vizinhos) sobre a forma como o ex marido a tratava, como seus filhos enxergam ela e como ela mesma é atingida por essas questões e, novamente, a crítica está presente e precisa ser levantada, especialmente porque é necessário estar atento para ver tais detalhes.
Com isso em mente, vemos de outra forma o sensacionalismo voraz que é instaurado em cima dos três outdoors de Mildred. Pois passamos a notar o mal estar coletivo que toma conta da cidade, onde os moradores sentem a necessidade de tomar lados e, assim como os dois protagonistas dos anúncios ficam no centro das discussões, sofrendo com as repercussões, Dixon (Sam Rockwell) se sobressai, representando o tom extremo que essas questões podem tomar, enquanto escancara lindamente algumas das hipocrisias sociais, especialmente norte americanas.
Apesar de uma direção menos leve que em obras anteriores, é importante ressaltar que Martin McDonagh apresenta um amadurecimento estético, se colocando como um diretor que não abusa de acessórios para contar uma história e sim na potência de um roteiro bem construído (e escrito por ele mesmo) e de um elenco afinado. Com toda certeza veremos com ainda mais anseio futuras obras dele.
Pitacos: Três anúncios para um crime concorre duas vezes na categoria de ator coadjuvantes, melhor filme, melhor roteiro original, melhor diretor, melhor atriz, melhor edição e melhor trilha sonora. É meu favorito nas categorias de melhor atriz e na de melhor ator coadjuvante para Sam Rockell.
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