Em uma narrativa linear, porém interessante, The Post levanta a questão de imprensa x política e ainda defende com unhas e dentes o lado da imprensa. Mas parece ser basicamente isso mesmo...
Com um caminhar de filme complexo, The Post vai contando a história real (mesmo que não apareçam os caracteres "baseado em fatos reais" em nenhum momento do filme) de Katherine Graham (Meryl Streep), Ben Bradlee (Tom Hanks) e o The Washington Post, que decidiu, mesmo contra uma liminar judicial, continuar as publicações relativas aos documentos vazados da Guerra do Vietnã, que foi iniciada pelo The New York Times.
Com essa decisão, uma avalanche importante de jornais locais passam a publicar matérias sobre os mesmos documentos, levantando uma discussão consistente e significativa sobre o papel da imprensa e até um pouco do seu romantismo.
O momento é oportuno, é verdade, já que há uma palpável tensão entre Trump e os veículos de comunicação, mas a verdade é que o filme não tem o mesmo brilho de Spotlight (que foi escrito, também, por Josh Singer) e nem é o melhor trabalho de Spielberg, Streep e Hanks.
Dito isto, vale ressaltar pontos positivos dessa obra, como o restante do elenco, que carrega com fibra a equipe de jornalistas do The Post e ainda temos os núcleos familiares e dramas pessoais de cada personagem. Apesar de trazer um pouco mais de questões pessoais, do que Spotlight (sim, a comparação persiste), algumas foram um pouco desnecessárias, é importante dizer, mesmo que para a personagem de Streep isso tenha contado.
Também vale falar da discussão feminista que o filme incita, não apenas por Kay Graham ter tido a coragem de assumir o jornal depois de dois homens e contra a crença de todos os envolvidos direta ou indiretamente no jornal, mas da maneira como a narrativa em si mostra como ela foi oprimida por isso. Fosse numa reunião com a sua diretoria, formada apenas por homens, fosse no momento em que ela passa por um grupo de secretárias para entrar num mar de ternos masculinos da bolsa de valores; fosse na conclusão pomposa, porém honesta da Sra Bradlee (Sarah Paulson) sobre a valentia dela em assumir o risco da publicação, mesmo com tanto em jogo.
Poderosa, de fato, milionária também, mas com certeza ela perderia tudo (ou quase tudo) se a decisão judicial sobre as publicações fosse diferente.
Mesmo que didática, a narração do passo a passo jornalístico dá um up à história, que enriquece com um pouco de romantismo o fazer dessa profissão que já mudou tanto desde essas publicações. Aí vemos algumas questões que não são tão primorosas assim: estando à sombra de Todos os homens do Presidente, The Post não consegue se sobressair tanto assim nos filmes jornalísticos que o antecederam.
Também traz uma Streep e um Hanks que já fizeram outros tantos filmes que exigiram mais deles. O gestual de Streep impressiona, assim como o olhar acuado que ela entrega em diversos momentos, mas no geral, sua personagem não brilha. Do outro lado, Hanks está bastante monótono, com um personagem que mais tem rompantes, do que vai construindo sua evolução ao longo da narração.
Por fim, é coeso e oportuno, mas vale dizer que se trata de um filme onde, muito mais pesou os nomes envolvidos, do que o todo.
Pitacos: O filme concorre a Melhor Filme e Melhor Atriz. Não acredito que leve um dos dois prêmios para casa e ainda acho que o seu lugar em Melhor Atriz foi conquistado pela cota anual da Meryl Streep nessa categoria, porém, vale uma atenção em Melhor Filme, pois é possível que ganhe como um manifesto atual a Trump. Veremos.
Nenhum comentário
Postar um comentário