Quem é Madeleine Elizabeth Sloane? Essa é, provavelmente, uma das perguntas que mais inquietam durante o filme Armas na Mesa. E "por quem é esta mulher?", entenda que não é apenas o literal, mas algo que abrange uma série de aspectos que não dizem apenas respeito a ela, no momento em que essa história é contada, mas que trata de um todo fascinante e ainda assim, misterioso.
Fiquei pensando muito sobre a melhor época para postar sobre esse filme. De fato, temos ótimos filmes sobre a figura feminina, suas conquistas e o feminismo como um todo, mas como esse foi um dos filmes mais recentes que me chamou atenção também por esse aspecto, acho que vale a data comemorativa dessa postagem, bem como o ressalto de como essa Ms. Sloane é impressionante.
Sim, porque o que vemos ao longo de pouco mais de duas horas, são pistas de um passado não revelado, impressões de uma crença não clara, traços de uma índole (no mínimo) duvidosa e uma capacidade sem limites de nos surpreender, principalmente por incorporar um estilo woorkaholic crônico, de um meio, basicamente, dominado por homens, o lobby.
Já na cena inicial temos uma câmera frontal, que encara Sloane (Jessica Chastain) nos desafiando a entrar fundo em uma narrativa de poder, interesse, subversão, esperteza e chantagem, em que um projeto de lei para que a compra de armas seja mais rígida, movimenta as discussões no congresso norte-americano. Sloane, então, entra na disputa, mas num grupo a favor, formado por lobistas éticos e que não estão acostumados a usar de tudo e qualquer 'arma' para conseguir algo. É nesse embate de princípios, então, que Sloane se destaca.
Não é apenas uma questão de anti-heroísmo, é uma personagem complexa e que não dá muitas respostas. Seu comportamento, sempre no limite do moral, nos deixa espaço para fabular sobre a sua história e tentar humanizar suas características frenéticas de convencimento, manipulação e descaramento, mesmo que o filme deixe claro que, tentar entender Elizabeth Sloane, é o mesmo que tentar entender os laços políticos pelas aparências.
Superficial e impreciso.
E se Sloane é uma incógnita, deve tudo à Jessica Chastain (dessa vez esquecida pela academia), que entrega uma atuação consistente e impressionante, não dando espaço para que vejamos muito além do que ela permite nos mostrar, sendo que nós assumimos o papel de um cúmplice aos moldes do que ela prega no filme inteiro: fazendo parte de um plano maior, o qual não se sabe que faz, até que já está dentro. Não é a primeira vez que Jessica rouba a cena e faz uma personagem que se insere em um meio machista e assume a liderança, impondo respeito com trabalho, eficiência e uma dedicação que beira o fanatismo (veja A Hora mais Escura), no entanto o que Sloane tem de diferente de Maya é uma sordidez marcante e, que, ao mesmo tempo, envolve.
Além da atuação particularmente espetacular de Chastain, também temos elementos que marcam Armas na Mesa como um filme que não deve passar despercebido, entre os quais se destacam: a Direção de Arte, construindo um ambiente de eterna competitividade, subjugação de valores, ética questionável, corrupção constante e tudo isso de colarinho branco, enquanto brinca com brancos e pretos, mostrando que nem tudo é branco e preto. E o roteiro, que é amarrado de modo a nos conduzir por surpresas constantes, construindo uma tensão inerente e ao mesmo tempo não evidente, em que todas as ações, todos os gestos e todos os diálogos têm relação e são importante em algum ponto, seja no caso do lobbing, seja na própria existência de Sloane. O ritmo acelerado exige atenção, no entanto, cada informação é importante e muitas vezes pode nos pegar ainda mais desprevenidos, por não termos nos aprumado. Mais do que um filme sobre ter malícia e concentração (porque nada é exatamente o que parece ser), é um filme sobre tentar antever os movimentos.
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