Sendo, para mim, o Foxcatcher da temporada, Carol chegou recheada de expectativas e atendeu poucas delas.
Através de uma atmosfera escurecida, de um pós segunda guerra mundial, Carol se desenrola contando a história de um romance homossexual entre Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara). Vindas de passados diferentes, as duas se sentem imediatamente atraídas uma pela outra, mesmo que por razões distintas, à princípio. O grande trunfo do filme, ao meu ver, é justamente como ele é construído em torno da noção da evolução de um sentimento, até a entrega total a ele.
Bom, o filme é, basicamente, dividido em planos abertos e planos detalhes, sempre organizados numa tela 3/3, ou seja, em que os elementos e as personagens não ficam necessariamente centralizados na cena. De um modo interessante, isso traz mais riqueza para o filme, em termos estéticos, uma vez que a história em si não tem grandes atrativos.
Digo isto, porque com um roteiro baseado no romance homônimo de Patricia Highsmith, pouca coisa realmente se sobressai nos diálogos e no caminhar da narrativa. Eu não poderia dizer que isto é algo que está presente na história original, mas fica evidente a falta de diálogos contundentes, algo que, normalmente, se destaca em produções baseadas na literatura.
Os olhares e as interpretações são as verdadeiras estrelas.
E que estrelas! Cate Blanchett é a elegância em pessoa! Ela olha para Therese como se tivesse algo para ensiná-la, passando uma forte segurança, mesmo sendo triste e solitária. Esta sobreposição de camadas de Carol, é o que a torna apelativa e interessante, tanto para a jovem Therese, quanto para nós. Rooney me lembra Carey Mulligan em Educação, mas sem a malícia de Jenny, o brilho de Carey e com muito mais problemas em descobrir sua própria independência e seus próprios sonhos. Como fica claro, Carol tem muito a mostrar para Therese e Therese quer muito conhecer tudo.
É graças à bela interpretação das personagens, juntadas à uma excelente organização de câmera e enquadramentos, que podemos perceber as sutilezas que figuram as mudanças de sentimentos e até a ampliação deles, seja na cena do carro, na do piano, ou mesmo a noite em que Therese e Carol dividem a cama. Essa evolução de sentimentos é um ponto muito interessante na narrativa, pois deixa claro que se trata de algo mais forte que o simples desejo.
Particularmente, achei a relação das duas adulta, porém bem menos arrebatadora que de Emma e Adèle em Azul é a cor mais quente. Talvez tenha sido pelo passo do filme, talvez tenha sido pelas expectativas frustradas, mas mesmo com a ótima trilha sonora e a fotografia significativa, Carol está entre os últimos na minha lista de favoritos ao Oscar deste ano.
Carol concorre às estatuetas de Melhor atriz, Melhor atriz coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor fotografia, Melhor figurino e melhor trilha sonora. Não é meu favorito em nenhuma das categorias, mas pode ser que surpreenda levando Melhor Atriz para Cate Blanchett.
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