Quase como se querendo passar uma mensagem que diz: "estão vendo! Nós sabemos o que estamos fazendo!", a Rede Globo lançou uma dobradinha da pesada em duas semanas seguidas, tomando o horário nobre com excelentes trilhas sonoras, ótimos elencos, histórias substanciais, tanto que fazem a gente se perguntar: "se vocês sabem fazer, porque permitem terríveis dramaturgias tais como vimos nas três novelas anteriores?".
Sim, porque a comentadíssima "Amor à vida" se recuperou nos trinta minutos do segundo tempo, quando desviou completamente a atenção da história chata do núcleo, teoricamente principal, para o anti-herói Félix e sua história de redenção e de amor com o doce carneirinho. Se vocês quiserem que eu refresque as memórias de vocês, "Salve Jorge" também foi uma péssima mostra da união de um roteiro sofrível, público desinteressado e uma geração online que não perdoa certos tipos de formatos sem alma na televisão. Acho que não preciso falar mais nada sobre "Em Família", né?
Seguindo o bonde, estamos com quatro grupos de autores de backgrounds diferentes, formatos peculiares e formas de interepretarem o que deve ser mostrado na tela que não se parecem em nada com o formato sem graça e de uma nota só de Glória Perez e Manoel Carlos; destaco mais ainda as presenças dos queridos Benedito Ruy Barbosa e Aguinaldo Silva, que sempre primaram por trazer à televisão tramas mais elaboradas. Afinal de contas, quem não se lembra das interessantes Cabloca, Sinhá Moça e O Rei do Gado; ou da inesquecível Nazaré Tedesco, a nojenta Maria Silvia e a caricata Tereza Cristina? Na outra ponta nos encontramos com os autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, que brilharam nas sete com Cheias de Charme (que falamos sobre aqui) e agora nos embalam com mais um trama modernosa e antenada, com muita vida e personagens jovens e interessantes. Falando em modernosa, a nova versão de O Rebu incorporou elementos atuais para se tornar mais um exemplo transmidiático e mais um exemplo de que é possível contar uma boa história, sem precisar apelar para clichês pré-fabricados e personagens simplistas.
De modo geral, podemos colocar que o diferencial dessas quatro tramas no ar é justamente o de não simplificar as histórias, transformando-as em frágeis interpretações da natureza humana, como se fóssemos persoangens abobalhados e desinteressantes. Sendo humanos em sua essencia, são capazes de cometer erros e de ter interpretações dúbias e ambíguas, o que nos leva aos nossos dois folhetins mais novos: tratam-se de personagens que nos arrebatam pela complexidade. José Alfredo (Chay Suede/Alexandre Nero) tem um quê de ambição compreensiva, que mesmo depois de ter matado um homem e ter feito fortuna com o comércio ilegal de diamantes, nos faz torcer para que se ele vença na vida e que consiga encontrar a paz, além da ambição na construção do seu Império. O mesmo acontece com os personagens que se envolvem na trama de O Rebu. Não dá para não gostar de Angela (Patrícia Pilar), mas também não dá para não suspeitar que sua elegância esconde muito mais do que aparenta; ou Duda, que parece ser tão frágil e estar tão abalado com o assassinato de seu tórrido romance, que quase nos faz levar a crer que ela não poderia ter nada a ver com aquilo. Sophie Charlotte está fabulosa, por sinal, nos levando a crer em mais uma demonstração de sua brilhante forma de atuar (vide "Serra Pelada" para maiores informações).
Ah, mas fabulosa mesmo são as trilhas sonoras de ambas as novelas. Quem me conhece, sabe que para mim, este é um elemento primordial, uma vez que me faz querer saber mais sobre a história, ou querer encontrar logo aquelas músicas para ouvir quantas vezes quiser. Inovando até neste sentido, Império quebra com o clichê Bossa Novistico e MPBístico de prache nas novelas, quando coloca em sua abertura "Lucy in the sky with diamonds", em uma interpretação de Dan Torres; além de embalar os enredos de seus personagens com o brilhante Ed Sheeran (que falamos sobre aqui), Carla Bruni, Paralamos do Sucesso, Cartola e Charlie Brown Junior. O Rebu também marca um golaço nesse quesito com New Order, Amy Winehouse e Roberto Carlos, entoando uma canção não convencional: "Sua Estupidez".
É claro que a novela serve para o entreterimento, serve como uma espécie de válvula de escape e serve para nos sentirmos mais leves. Mas não quer dizer que devemos ser presentados com ralas formas de se fazer narrativa. Acho que já passamos faz tempo disso e deveríamos ter superado também. Na verdade acho que já superamos como público, e por isso demos um tapa com luva de pelica na globo, através da nossa indiferença e do nosso clamor: queremos mais e precisamos de mais! E assim...nos deram mais!
P.S: Escreverei mais sobre "Império" e "O Rebu" quando as tramas se aproximarem do final, mas posso dizer que estou bastante animada para o que virá!
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