Sejam bem vindos à detenção. Vocês não podem falar, não podem rir. Não podem se levantar e podem ter certeza de que eu estarei do outro lado do corredor observando todos os seus passos. Principalmente os errados. Durante a detenção vocês devem escrever uma redação de duas páginas sobre quem são e porque fizeram o que fizeram, para vir parar aqui.
Cinco adolescentes, cada um pertencente à uma panelinha, cada um com seus problemas, própositos e questionamentos. Cada um sem saber muito bem como responder a grande questão da redação: quem sou eu?
É assim que somos apresentados à Clarie, Johny, Andy, Ally e Brian cinco caricaturas de tipos, a princesa (ou rainha do baile do colégio), o criminoso, o atleta, a louca (ou caso perdido) e o cérebro. E à princípio é assim mesmo que parece que o filme caminhará, como um bom e velho High School Movie, onde ralas representações de pessoas, descobrem que podem desenvolver uma amizade entre si, quebrando todos os status quo impostos pelas panelinhas. Porém não é bem assim que a história se desenvolve.
Não, porque assim que o filme ganha fôlego, nós temos a oportunidade de acompanhar John provocando seus colegas. Perguntando sobre suas vidas pessoais e sobre seus "delitos" por estarem na detenção, sobre sexo, sobre seus pais e sobre seus medos. John também é o responsável por tirar todos os seus companheiros de suas respectivas zonas de conforto, levando-os no começo a um "destempero" e logo depois a revelações importantes sobre quem são e porque o são.
É aí que o filme começa a incomodar. Mas é um incômodo positivo. Daqueles que te deixam ansiando pelo desenrolar da trama e que te trazem algumas coisas para pensar e também para visualizar sobre essa geração da década de 80. Em essência, seria esse jovem que realmente procura um sentido em ser jovem, numa época em que lutar em guerras, manifestar-se contra elas ou ser rebelde não dava mais conta do que era ser adolescente. Então o que resta para esse jovem, se não viver uma vida de dúvidas, questões existenciais e entorpecimento social?
Não restaria nada...ah, mas esses cinco jovens são diferentes de todos os outros. São, porque encontram, a partir da relação entre eles, uma razão para ser jovem e uma razão para ser algo mais do que seus próprios estereótipos dizem. E é aqui que o filme quebra com algumas ideias pré-concebidas sobre o gênero High School, mas que hoje parece ser uma receita repetida diversas vezes na telona. O atleta, a rainha, o cérebro, o criminoso e a louca são mais do que todas essas coisas. Eles são todas elas.
Mas como um bom filme provocador, as coisas não poderiam simplesmente se resolver. Lembro-me de um excelente diálogo em que Brian questiona aos outros quatro se na segunda feira eles serão amigos. Claire responde que não é possível. Não é, porque seu grupo de amigos nunca vão aceitar os novos amigos da detenção. Não é, porque seus mundos são diferentes e foram feitos para ficarem afastados. Não é, porque um vai ficar com vergonha do outro e no final das contas, nada vai ter realmente mudado.
E nada vai, realmente ter mudado. Pois a adolescência passa, os anseios da juventude também e no final das contas seremos os reflexos de nossos pais. Será mesmo?
Bom, o filme tenta desafiar essa ordem das coisas, deixando um final em aberto (com uma sensacional música ao fundo), onde afirmações de estereótipos parecem não caber mais. Talvez dando a entender que, a partir do contato que tiveram uns com os outros, eles tiveram a chance de se desvencilhar dos papeis que achavam que tinham sido desenhados para viver
No final das contas não importa se você é apenas mais um indíviduo visto sob rótulos, ou s ena segunda feira tudo vai parecer exatamente como era na sexta. Pessoas que não se falam e vidas que não se cruzam. Porque em algum momento essas pessoas se falaram e suas vidas se cruzaram. E da maneira que isto aconteceu, deixou marcas muito mais profundas do que um brinco de diamante e uma redação que diz:
"Caro Sr. Vernon, aceitamos o fato de que nós tivemos que sacrificar um sábado inteiro na detenção pelo que fizemos de errado ... e o que fizemos foi errado, mas acho que você está louco por nos fazer escrever este texto dizendo-lhe o que pensamos de nós mesmos. Que te importa? Você nos enxerga como você deseja nos enxergar ... Em termos mais simples e com definições mais convenientes. Você nos enxerga como um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso. Correto? Essa é a maneira que nós nos víamos, às sete horas desta manhã. Passamos por uma lavagem cerebral. Atenciosamente: O Clube dos Cinco"
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