Numa mega promoção, digna de muitos Oscars, a história de Victor Hugo sobre a escória da sociedade francesa pós revolução (1789), pode, facilmente, ser revista e revisitada em qualquer período histórico. Parece que é isto que acontece com clássicos. E como um bom clássico, "Os Miseráveis" mostrou a cara e fez questão de afirmar que o gênero musical não é só feito de baladinhas, musiquinhas chicletes e muitas cores.
"Os Miseráveis" acompanha a vida e pós vida de Jean Valjean, um homem preso por roubar um pedaço de pão e que passa 20 anos como um escravo desgrenhado e desrespeitado. Depois que é solto, Jean encontra redenção através do bom gesto de um cardeal e resolve mudar de vida e reacreditar nas pessoas. Neste processo ele ascende profissionalmente (tornando-se uma espécie de prefeito) e também socialmente, já que se torna um exemplo de moral, honra e boa índole. Também somos apresentados a Javert, um representante da polícia e nacionalista extremo. Enxerga a autoridade do Estado como soberana, inclusive sobre o próprio ser humano, por isso adere a todas as formas de opressão e é um cumpridor ferrêneo de suas imposições.
Jean Valjean e Javert são os antagonistas da história. Jean representa o pobre, miserável e desacreditado. Enquanto Javert é toda a glória de um Estado que se impões sobre os outros e que não enxerga mais do que a si próprio. A história de "Os Miseráveis" gira toda a em torno desses dois personagens, que entre obstáculos e libertação reencontram o sentido de viver, ou mesmo veem motivos para morrer.
Já deu para perceber que é uma história bem pesada e justamente por o ser, não poderiamos pensar que "Os Miseráveis" seria apenas mais um filme musical e que seria ofuscado por "Lincoln" e/ou "A hora mais escura". Na verdade, em certos termos "Os Miseráveis" é o melhor filme desta temporada de estréias, pois dada a complexidade de sua história e a profundidade de seus personagens, o filme poderia ter sido um fracasso. Mas não foi.
Graças em grande parte a dois atores simplesmente maravilhosos. Hugh Jackman e Anne Hathaway. Hugh Jackman interpreta Jean Valjean e como já disse, ele é o personagem central da trama. É ele quem sofre as maselas sociais, ele quem consegue se tornar alguém, ele quem salva a vida da pequena Corsette e é ele quem nós torcemos, no final das contas. Jean Valjean é um personagem intenso. Vai de um extremo ao outro, experimentando o bom e o ruim da vida e por isso parece ser ainda mais dificil. Mas Hugh Jackman conseguiu. Interpretou um Jean forte, destemido, mas verdadeiramente humano.
Anne Hathaway interpreta Fantine, uma mulher trabalhadora, que tudo que consegue envia para sua filha Corsette, que está sob os cuidados de um casal um tanto quanto duvidoso. Anne Hathaway é o motivo que as pessoas devem assistir a este filme, pois a cena em que ela canta "I dreamed a dream", além de bela e intensa, é a verdadeira tradução do que a obra de Victor Hugo se trata. A miserabilidade humana, a falta de crença em si mesmo e principalmente, a perda dos sonhos. Pessoalmente, penso que se você assistir só essa cena, vale pelo filme todo.
Falando em músicas, é admirável ver que o filme todo é cantado e que não houve nenhuma gravação anterior, ou seja, os atores cantavam conforme o filme transcorria e isso deve ter dado um trabalho imenso para ser feito, já que o filme tem uma duração de 2h43min. Pois é. E o tempo do filme é irritante. Principalmente por se tratar de um filme pesado com um história pesada, dá a impressão de que ele é mais longo do que realmente o é e existem cenas em que você simplesmente quer parar e assistir outro dia. E acho que esse foi o grande "erro" do filme, pois não conseguiu levar para as telonas o que é forte no musical, a capacidade de te prender até o final.
Me surpreendeu Amanda Seyfried no papel de Cosette. Acho que ela é uma ótima atriz e tudo, mas Corsette definitivamente não foi sua melhor atuação. Cosette está bem apagadinha e não a achei convincente. Bem diferente de Eponine. Uma personagem secundária que brilha intensamente, principalmente quando solta a voz e canta "On my own". Muito mais interessante que a apagadinha e sem gracinha Cosette, embora eu já tenha visto outras versões em que Corsette está bem mais iluminada e você compreende a razão de Marius ser completamente apaixonado por ela.
De maneira geral, "Os Miseravéis" tem todos os elementos de um melhor filme, é forte, pesado, melodramático e apesar de se passar em um dado período na sociedade francesa, é possível enxergá-lo acontecendo em outros períodos e em outros lugares. Seu ganho é sua megaprodução, atores geniais e aquela sensação de leve estuporamento, emoção e bom...cansaço quando o filme finalmente acaba.
A estatueta de Melhor atriz Coadjuvante para Anne é quase certa, a de melhor filme é duvidosa, mas a de Figurino é uma forte candidata.
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