A primeira vez que eu assisti O Silêncio dos Inocentes foi no início da minha adolescência e o meu irmão do meio locou o filme no período de férias. Lembro que, no auge dos meus 11 anos, ou algo assim, assistir a essa obra se provou um desafio e tanto. Primeiro, porque eu admito nem ter dissernimento para entender o filme, muito menos coragem de assistir como se deve (já que, na época o meu irmão me botou medinho e eu achava que se tratava de um filme de terror); segundo, porque a história foi exibida no televisor da sala de casa, por volta das 23h, com as luzes todas apagadas. Devo ter adormecido em diversos trechos do filme.
Mas recentemente eu tive a oportunidade de assistir novamente e, bom, dessa vez como se deve. E como me arrebatou esse suspense psicológico, que já é um verdadeiro clássico do cinema. Ganhador de cinco estatuetas Oscars, em 1992, basta olhar as categorias que ele levou, para entender as principais qualidades dele:
Baseado na obra literária homônima de Thomas Harris (que também escreveu Hannibal e Hannibal, a Origem do mal), o filme se suporta em grande parte nos profundos diálogos entre Clarice (Jodie Foster) e Lecter (Anthony Hopkins), e nos pensamentos de uma protagonista feminina cheia de camadas, complexa e arrebatadora. Verdadeiramente à frente do seu tempo. Além disso, é um trabalho completamente imersivo, onde os maiores momentos do filme são construídos em torno do crescimento exponencial da tensão, até a explosão de algo. Interessante que não é algo, necessariamente grande, mas determinante para chegarmos a um final incerto, aberto e levemente perturbador.
Dignas de aplausos calorosos, Foster e Hopkins fazem uma dupla e tanto! Eles tem química juntos, mas também funcionam extremamente bem individualmente, destacando-se da escória psicopata e criminosa; e do padrão dos policiais turrões, Hannibal e Clarice, respectivamente, têm as suas próprias verdades, sendo o primeiro empático, filosófico, profundo e temivelmente encantador. Sua natureza envolvente é responsável por nos deixar irremediavelmente confiantes de que ele não pode ser um monstro.
Toda essa elegância também conquista a nossa policial favorita e a deixa num constante estado de questionamento de crenças e princípios, tanto que ~spoiler alert~ depois da fuga de Hannibal, ela tem certeza absoluta de que não será uma presa dele. Clarice, inclusive, parece ter mais dúvidas do que certezas, mesmo que não perceba isso, uma vez que a sua mente é totalmente infectada pela relação que cria com Lecter.
Coeso, coerente e com características estéticas que dão espaço para diversas aulas de cinema (direção de arte, desenho de som, mixagem sonora, fotografia, edição e atuações coadjuvantes), O Silêncio dos Inocentes marca pela sua riqueza de momentos gloriosos, que juntam em uma obra completa todas as peças que fazem o cinema verdadeiramente apaixonante!
*Importante dizer que escolher em qual categoria iria encaixar esse filme nos 24 filmes para 2016 do Blogs que Interagem foi bem difícil, uma vez que se trata de um filme dos anos 90, é ganhador do Oscar, passa no texte Bechdel, é um Clássico, mexe com política, e foi proibido em alguns países. Bem completo, né? Nesse caso eu o coloco na minha lista na categoria Ganhador do Oscar.
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