Mesma guerra. Batalhas diferentes

"Bomb Girls" é uma daquelas séries que te arrebata pela qualidade. Qualidade de elenco, de cenografia, roteiro e direção. Mostrando mais uma vez que é possível ter boas produções com um quê histórico e de grande investimento, fora dos Estados Unidos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os países escolheram lados e se aliaram com um dos grandes responsáveis pela a luta, seja a Alemanha, seja a Inglaterra e França. A verdade é que o momento foi de grande tensão e talvez (só talvez) nós não tenhamos a infelicidade de saber como era esse clima, mas uma coisa é certa, todos os aliados se esforçaram de alguma forma para que o seu lado ganhasse a guerra. A história não poderia ser diferente no Canadá que era aliado da Inglaterra e mandou grande parte dos seus homens com mais de 18 anos e capazes de ficar em pé para o outro lado do oceano. E é neste Canadá durante a guerra que se passa esta série que só teve 2 temporadas, porém excelentes.
A série acompanha a vida de quatro mulheres de idades diferentes, backgrounds diferentes e enredos diferentes, mas que trabalham em uma fábrica de munições, a Victory Munitions, e é neste ambiente que as suas histórias se encontram e é possível acompanhar o que cada uma delas tem a acrescentar à narrativa.
As personagens de "Bomb Girls" são: Gladys Witham, uma herdeira que tinha tudo para ser completamente alheia ao que estava acontecendo no mundo, mas que decide trabalhar na Vicky Munitions para fazer algo pela guerra. Claro que ela sofre poucas e boas por ser a "princesa" na fábrica, mas ganha o seu espaço e passa a ser respeitada por todas. Lorna Corbett é a maezona da história. Casada com um ex militar paraplégico pela primeira guerra, Lorna compensa a falta de afeto em casa, com o carinho que recebe das moças que coordena na fábrica, seus filhos gêmeos estão na Guerra. Betty McRae é a líder das trabalhadoras na fábrica, forte e decidida, Betty esconde muitos segredos, inclusive o fato de ser muito doce e sensível. Kate Andrews é uma garota que cresceu sob os maltratos do pai, um pregador devoto que acreditava que a redenção viria com penitencias físicas, então decide fugir, mudar de nome de vida. Acaba conhecendo Betty que lhe ajuda e Ivan por quem se apaixona.
Todas as personagens tem um quê de humanização, em que nos causam amor e ódio ao mesmo tempo, de forma que no final da série podemos até não gostar de algum deles, mas com certeza compreendemos todas as suas razões de fazer o que fazem. Além disso a cenografia e figurino são belíssimos. Muito me encanta essa estética de transição entre os anos 40 e os anos 50, onde já é possível observar algumas das minhas peças favoritas como a saia evasê, a luva curta, o cinto largo sobre as roupas e claro, os lenços que tinham mil e uma utilidades. Também vale ressaltar a maquiagem super natural e bem embonecada, assim como os cabelos com muitas ondas e rolinhos.
Vale dizer que "Bomb Girls" é uma verdadeira série feminista, quando aborda algumas questões atemporais, como o lugar da mulher na sociedade, como ela pode acrescentar mais do que beleza e como a sua mão de obra pode ser desvalorizada. Tudo isso de um modo nada afetado e sem apelar para extremismos. Ou seja, uma série que tinha tudo para cair em clichês ambulantes (como eu admito que achei que cairia), mas que consegue se erguer com uma narrativa bem desenvolvida e até mesmo surpreendente. Uma característica que torna esta série tão interessante, ao meu ver, é o jogo que desenvolve com o espectador de entregar para ele exatamente o que ele esperava, mas logo em seguida retirar e oferecer alternativas interessantes, para a mesma situação.
É de se lamentar que uma série tão boa quanto esta tenha tido uma sobrevida tão curta, principalmente se pensarmos que os enredos poderiam ter sido muito mais explorados, se a série tivesse tido tempo para fazê-lo. Mas fica a dica para quem procura algo para ver.

2 comentários

Ramon Viegas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ramon Viegas disse...

Ótimo texto Ana.