Qual o seu propósito aqui?

Tem um quê de 2001 - uma odisséia no espaço, alguma coisa de Interestelar e muita influência da humanização da ciência, que vem se popularizando nos últimos anos. Este é A Chegada.


Imagine você se subitamente aparecessem 12 naves espaciais de mais de 400 metros de altura, espalhadas por 12 locais aleatórios no planeta Terra. Qual seria a sua reação? O que você pensaria sobre elas? Faria alguma coisa para tentar compreender a presença delas aqui? Sobre essas questões e algumas outras, o filme A Chegada marca presença nas telonas dos cinemas do Brasil. 
Isso e outras coisas, porque talvez a maior de todas as questões ali, além da humanidade em si, seja a ideia de uma não linearidade de pensamento e, por consequência, uma não linearidade de tempo. Mas calma, já estou tentando exercer essa motivação não linear, oferecendo informações que deveriam vir mais a frente nessa resenha...
Voltando ao que motiva a narrativa fílmica, baseada no livro "The Story of your life", de Ted Chiang, depois da chegada dessas 12 naves, Louise (Amy Adams) e Ian (Jeremy Renner), peritos e especialistas em áreas, aparentemente sem relação direta, (Linguística e Cosmologia, respectivamente) são colocados para trabalharem juntos e tentarem se comunicar com os extraterrestres que habitam uma dessas naves, a fim de perguntarem aquilo que todos querem saber: "Qual o seu propósito aqui?".

Conforme a narrativa caminha, algumas inserções de uma segunda (ou primeira) narrativa aparecem e é aí que a história fica realmente interessante, uma vez que elas podem se confundir e até trazer indícios errôneos sobre as nossas percepções. Mas esse é um dos maiores trunfos da história. Veja bem, começamos falando de uma tal de deslinearidade e ela nos conduz por um filme que não tem, exatamente, começo - meio - fim, mas tem inícios - meios - fins, quase sendo possível reacessá-lo continuamente.
E o tom de suspense, como bem vinha fazendo o canadense Denis Villeneuve nos últimos anos (diretor de Os Suspeitos, O Homem Duplicado e Sicario: Terra de Ninguém), marca presença através da psiquê dos personagens em grande peso, mas o que realmente brilha é a mão desse diretor no gênero sci-fi, que se deixa encantar, duvidar e até confundir ainda mais o que já estava em questão.

A sempre sólida Amy Adams dá à Louise um tom de desamparo, mas sem perder a ciência de sua capacidade profissional. Ela estabelece uma estranha conexão com os aliens, de modo que o entrelaçamento de sua vida pessoal, com a mensagem desses seres faz sentido, mesmo que não de maneira clara no início da trama. Além de um perfil levemente perturbado, Louise não deixa clara a sua história, suas motivações, seus sonhos e, talvez o mais importante, seu passadoComo um inteligente filme precisa ser, as ideias simplesmente se encaixam no final de tudo e a atuação de Amy simplesmente faz sentido. 
Enquanto Amy brilha na tela, por trás dos lindos enquadramentos, das lindas fotografias e de uma trilha que marca o filme genialmente, destacam-se os editores que deram conta de montar uma fluida, intensa e ao mesmo tempo envolvente história, que realmente bebe de muitas fontes, mas que se estabelece como si própria de modo sagaz e imperdível.



Pitacos: Acredito que A Chegada seja o vencedor da temporada em categorias técnicas, principalmente porque é um filme que exige um alto grau de edição de imagens e de som. Por isso estou apostando as minhas fichas em: Edição de Som, Mixagem de Som e Edição. Veremos os outros concorrentes. Apesar de ser um excelente filme em roteiro, não deve bater Cercas, ou Lion.
Indicações: Melhor filme; Direção; Fotografia; Mixagem de Som; Edição de Som; Direção de arte; Roteiro Adaptado; Edição.

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