Tudo o que eu preciso cabe numa mala. Aquela ali.
Uma mala preta, de estrutura rígida, tamanho médio (apesar de eu evitar admitir que prefira a de cabine, pois soa pior dizer que tudo o que eu preciso cabe em tão pouco espaço). Dá pra carregar na mão, como um par de sapatos quando os pés estão cansados.
É bom ser nômade. É bom praticar o desapego em tudo e se jogar aos planos (ou as vezes falta deles), sem medo de ser feliz. É bom, mas não posso negar o medo que bate, de vez em quando, de ouvir, num futuro não muito distante, que é preciso parar de vez em quando. Parar e desfrutar o redor, desfrutar com quem e onde estou, evitando pensar imediatamente no próximo avião que vou pegar.
Dá medo, mesmo. E quanto mais vejo e revejo o diálogo de Buenos Aires em Latitudes, mais tenho certeza de como a vida cabe numa mala. Como "por um, ou dois dias parece contete por estar de volta", com culpa por não querer voltar. Com culpa por não querer ficar, num "patético esforço de manter o controle" e fingir saber exatamente onde quer estar.
Porque talvez não queira, simplesmente, estar em algum lugar. Talvez porque queira estar em todos os lugares. Entre nuvens, luzes, voos, imagens e, bom, malas.
Mas tudo o que eu preciso cabe na minha mala. Lá tem destinos, folhas escritas, folhas em branco, canetas, ideias, sonhos, metas, arranjos, desarranjos e segredos. Mas todos eles são meus e todos eles me pertencem. Cabem também chaves de quartos de hotéis, livros já lidos, inspirações em crônicas, roupas amassadas e diversos momentos só meus. Todos eles me pertencem.
E quanto mais me identifico, mais caminho para aquele lugar de egoísmo e completo pânico de ter que carregar mais uma mala. Uma outra mala que não é minha, é maior que a minha e ter que despachá-la.
Despachar e esperar 20 minutos até a sua chegada.
E nunca Up in the air fez tanto sentido...
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