Bruno (Caio Blat) e Amanda (Letícia Collin) se conheceram por acaso, quando o vôo dos dois, que ia do Rio de Janeiro para São Paulo, precisou fazer um desvio em Confins, por causa do mal tempo na capital paulista. Entediados, os dois se fizeram companhia, mas no dia seguinte a vida se seguiu. Será mesmo?
O filme nacional Ponte Aérea, para começo de conversa, se foca tão profundamente na vida dos dois personagens, que os contextos os quais eles vivem, os espaços e as cidades são tratados como meros cenários, o que já me deixou com o pé atrás por motivos de: se estamos falando de um relacionamento que se desenvolve a distância, os contextos deles são importantes, indo além das conversas que os personagens tem.
Inclusive esse foi outro aspecto que me deixou bastante incomodada, pois essas conversas giram, basicamente, em torno das pré-concepções que eles tem sobre os "comportamentos" carioquês e paulistano. A impressão que dá, é que eles reforçam essas tais pré-concepções, até pela construção dos personagens, seus hábitos e necessidades.
Sendo a cidade (ou as cidades) meramente cenários, ela se encontra ao fundo em boa parte das cenas, não significando nada e estando a frente Amanda e Bruno, que descortinam um complicado relacionamento, misturando sentimentos tortos, que eles tem um pelo outro e por si mesmo. Isso de fato turbina a história, que poderia, aliás, ser vista como uma boba comédia romântica, a qual eu esperava me deparar. É romance, mas não sei até que ponto pode ser uma comédia, ou mesmo uma história de amor romântico e quem já viu o filme acho que vai entender o que eu estou dizendo...
É nesse momento que eu acho interessante tocar num assunto que é muito adorado na área da comunicação, o chamado "contrato de leitura". Basicamente, o contrato de leitura determina previamente o que você espera ou deve esperar de uma narrativa. Isso quer dizer que, conforme você tem acesso ao que engloba uma mensagem, você monta na sua cabeça expectativas, tais como são montadas quando assistimos ao trailer de Ponte Aérea. No trailer a história é vendida como sendo a de um casal, que mora em cidades diferentes, mas que luta para ficar junto, apesar de todo o fuso-timing entre suas realidades.
Sendo assim, a ideia que criamos em torno do filme é a de um romance. Mas como disse...não é exatamente tão simples assim, o que quebra um pouco com o contrato de leitura inicial e nos deixa num misto de frustração e realização, uma vez que eu esperava sair do filme com suspiros e no entanto saí com a sensação de que, apesar de ter sido melhor cosntruído do que uma "boba comédia romântica", o filme não me atendeu. Sei lá se você entende, mas eu queria uma boba comédia romântica, no dia em que o assisti =P
Seguindo em frente, devo elogiar os enquadramentos, que me agradaram bastante. Todas as cenas são montadas de forma tradicional e deixando implícito que somos observadores ali. Observamos o caminhar dos personagens e seus dramas sendo desvelados, conforme vemos a própria câmera passear por esses momentos, sempre numa certa distância. É como se dissesse que aqueles instantes pertencem à Bruno e Amanda.
Com um roteiro plain, sem grandes viradas, é de ressaltar os diálogos, por vezes calorosos entre os personagens, que as vezes me lembravam os meus adorados Latitudes, 500 dias com ela, Two Night Stand e até um pouco de Antes do Amanhecer. Particularmente, não fui arrebatada por nenhum dos dois personagens, como aconteceu com os casais dos filmes citados acima, mas é possível ver o ensejo de ser algo além do que foi vendido pra gente, no tal do contrato de leitura. E isso é bom.
Ponte Aérea, no final das contas, é um filme legal, com potencialidades boas e bem construído, mas não é muito mais do que isso...
Nenhum comentário
Postar um comentário