Crônicas de Viagem - II


Já reparou como o avião tem esse poder, quase mágico, de fazer completos estranhos se conhecerem e ainda por cima, contarem coisas interessantíssimas sobre as suas vidas? Acredito que comigo isso já tenha acontecido tantas vezes, que nem lembro de todas as histórias que m e contaram. Está certo, existem aquelas que ficam guardadas, como a do irlandês que escolheu o norte do Brasil para fazer mochilão, a italiana que morava há 12 anos no Brasil e finalmente voltava ao seu país para ver sua família, ou a mãe e a filha que estavam voltando de uma volta ao mundo, por causa de um falecimento e um divórcio.
Pessoas interessantes, de fato, e pode ser que muitas das histórias que tenham me contato não passem de algo criado, uma "mentira" como muitos diriam, mas essa é outra magia que o avião proporciona: a de se reinventar.
De repente, ao dividir o apoio de braço com um alguém estranho, também se divide uma intimidade única e começar uma conversa para descontrair é nada mais do que o esperado. A conversa começa despretenciosa, mas logo nos percebemos livres para tomarmos para si aquelas características que sempre quisemos ter. Contamos detalhes de uma viagem, que nunca fizemos, mas já temos tudo planejado (ou não), somos mais descolados, mais misteriosos, mais interessantes. Queremos ser mais corajosos, menos inseguros. E isso é ótimo! 
1º porque muitos estranhos você nunca mais verá, 2º porque mesmo que você os reencontre, as probabilidades de vocês se reconhecerem são quase nulas e 3º porque experimentar novas personagens é excelente para descobrir quem somos de verdade e ainda por cima termos ainda mais orgulho de quem somos.
Claro que, nem todas as pessoas que você conversa (ou tenta conversar) estão muito interessadas em ouvir, trocar ideias e te falar sobre sua vida. Ainda, a grande maioria se reserva a falar o polido, "boa noite", "bom dia", "boa tarde". "Pode me dá licença?" e "Você vai descer aqui?". É normal as pessoas quererem cada vez menos interagir, já que elas se sentem bem menos interessantes do que realmente são. E hoje em dia, com o facebook, apenas dando o primeiro nome você já pode descobrir tudo sobre o seu interlocutor de apoio de braço, sabendo se ele mentiu, ou como gosto de dizer...se reinventou. Então para quê todo esse exercício se logo descobrem?
Pela magia de estar numa aeronave e pelo conforto de falar com alguém. Então não tema! Pessoas continuam sendo interessantes, assuntos puxados entre horas de voo não são péssimo e nem precisam ser desconfortáveis. Se você quer saber eles nem precisam saber o seu nome...
Afinal de contas, tem coisa mais divertida que se tornar um estranho conhecido de alguém? 

2 comentários

Lívea Colares disse...

Que legal! Faz parte da mágica de viajar! hehe
Esse teu post, inclusive, me lembrou um livro que li recentemente, a história toda se passa em 24h, grande parte em um aeroporto e no avião, onde os protagonistas se conhecem. Se chama "A probabilidade estatística do amor à primeira vista"! #FicaDica

Ana Carolina disse...

Lívea,
eu li o livro, com certeza me inspirou de alguma forma, rss.
Até preparei uma reseninha pra dividir com os bebedores de café ;)

bjs