Depois de Alice, só restaram Sombras

Apesar de algumas pessoas pensarem que o Vampiro tradicional está "morto", surge Tim Burton e resgata um personagem à lá Conde Drácula, mas com personalidade própria. Baseado no seriado homônimo de 1960 de Dan Curtis, chegou aos cinemas nesta sexta-feira Sombras da Noite.

É bem verdade que Johnnny Depp e Tim Burton já criaram filmes marcantes juntos, como é o caso de Edward Mãos de Tesoura e A Noiva Cadáver, mas parece que nos últimos anos a parceria deixou a desejar, e muito. Principalmente com Alice e agora Sombras da Noite. A vontade de assistir ao novo filme da dupla, parte muito mais do elenco e da produção fabulosa do filme, do que realmente do trailer, ou mesmo das primeiras cenas que se seguem. A verdade é o que filme é frustrante.
Particularmente, adoro a estética trasngressora e o visual sólido de cores incomuns de Tim e para mim isso por si só, já um show, mas fiquei abismada com a construção fraquíssima dos personagens e das cenas sem profundidade que Sombras da Noite nos apresenta. 
A história começa com a ida de uma família (os Collins) de Liverpool para os Estados Unidos, ainda em meados do século XVIII, lá eles se tornam, praticamente, os donos da cidade e acumulam riquezas e prestígio entre os moradores e trabalhadores. Barnabas (personagem de Depp) constroi com uma das serviçais da família (Eva Green) uma relação conturbada, de forma que a moça, Angelique, torna-se obcecada por Barnabas e o quer de qualquer maneira.
Por causa desta sua fixação, Angelique começa destruir a família Collins um a um, começando pelos pais de Barnabas e seguindo para a futura esposa de Barnabas, Josette. Quando Josette morre, Barnabas se joga em desespero tentando morrer junto com a amada, porem é neste momento que Angelique o amaldiçoa, transformando-o em um vampiro. Para completar, ela incita a população, fazendo com que Barnabas fique preso em um sepulcro de ferro por 2 séculos, despertando no meio dos anos 70.
Quando desperta, encontra a sua família a beira da falência, nenhuma conexão ou carinho entre eles, uma médica em constante ressaca e para completar uma moça que se parece demais com a sua amada Josette, mas que tem um jeito pertubado e parece exageradamente frágil e apagada.
Em meio a isso tudo, que daria pano para muita manga, o roteiro morre. A história é boba, os personagens são ralos e as tramas não se desenvolvem. O filme tem muitas cenas desnecessárias, que poderiam ser aproveitadas de outra forma e nos deixa com o sentimento de que realmente, se passaram 2 horas.
O filme consegue fazer a gente dá algumas risadinhas, mas sinceramente não sei exatamente qual a sua intenção. O âmbito social de revoluções, guerra e transformações são rasteiramente utilizados, mas somente para dizer que foram lembrados. As expectativas criadas no início da trama, como a aparência idêntica de Victoria e Josette, ou o mistério de David em relação a sua mãe, ou mesmo o jeito drogado e esquisito de Carolyn, acabam sendo só expectativas, pois nada de realmente interessante acontece.
Acredito que o maior 'pecado' do filme é o fato dos personagens terem motivações tão ralas e imaturas. A personagem de Eva Green, que seria a tal bruxa super poderosa que amaldiçoou a família, quer o Barnabas a qualquer custo e por sua maior fixação acaba destruída, mas a verdade é que ela não rende e nem instiga nada. 
Victoria que aparenta ter um passado atormentado, de fato o tem, mas nada muito interessante; sua pertubante similaridade com Josette nos deixa curiosos, mas não é respondida e ainda deixa mais lacunas no filme. A personagem também não se desenvolve e na verdade quase regride a um estado de personagem romântica de quinta categoria, de forma que ela nem é percebida quando aparece, e chega a ser esquecida durante as cenas em que não aparece.
Bom, apesar dos pontos fracos serem os que mais se sobressaem, a trilha sonora do filme é excelente e realmente embala a trama, em alguns pontos até se sobressaindo; os atores não deixam de ser sensacionais e desenvolveram os personagens até onde deu; fotografia e cenografia são maravilhosas e sempre naquele estilão próprio do Tim Burton; figurino e maquiagem maravilhosos como sempre.
No final fica um gancho para uma sequência, mas sinceramente espero que na próxima vez o roteiro seja mais inteligente, fortalecido e desenvolvido. É um filme que não recomendo ir ver no cinema.

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