Sobre o "congelamento" de Contos de Fadas
19 de fev. de 2012
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Entre as muitas leituras que eu tenho feito para o meu TCC dentro da temática "Contos de Fadas", 80% delas reclamam de uma observação que fizeram durante seus anos de análise: o "congelamento" dos contos de fadas.
Segundo pesquisadores como Socorro Vilar, Bruno Bettelhein, Maíra dos Santos e Maria Christina Wenzel, quando estas histórias foram readaptadas, principalmente pela Walt Disney Studios, ela perdeu uma característica muito importante que a mantinha por tanto tempo vigente: a sua possibilidade de ser recontada.
Antes de mais nada é essencial explicar para os leitores que nunca pesquisaram contos de fadas, que as histórias tradicionais vieram da cultua oral. Muitas delas viajaram quilômetros e quilômetros até serem transcritas e guardadas como registros para a posteridade. Nunca saberemos ao certo como a maioria das histórias eram trasmitidas dentro do seu desenho original, uma vez que iam sofrendo adaptações conforme o tempo e o contexto mudavam. Estes contos podem ter vindo dos mais diversos cantos do mundo, por exemplo: poucas pessoas sabem, mas a história "O príncipe sapo" vem da cultura oral africana e era uma história consideravelmente diferente da transcrita pelos irmãos Grimm e ainda mais diferente da adaptação feita pelos estúdios Disney em "A Princesa e o Sapo" (2011)
Conforme o tempo foi passando é claro que novas histórias foram contadas e novas interpretações foram dadas, principalmente no que diz respeito aos finais dos contos; normalmente os finais dos contos de fadas eram violentos e por muitas vezes cruéis. Assim, os finais e as partes violentas das histórias foram sendo diminuidos com a linguagem em que as histórias eram contadas, de forma que o tom era outro, mas a mensagem (a chamada "Moral da História") ainda era mantida, pois era este o objetivo delas.
Em 1937 Walt Disney lançou o primeiro longa metragem em animação e ainda de quebra lançou a primeira adaptação cinematográfica em animação de um conto de fadas: Branca de Neve e os Sete Anões.
Assim, versões disneyanas atrás de versões disneyanas foram feitas, retratando de forma infanto-juvenil e adorável aquelas histórias, retirando quase que completamente os momentos de violência, assassinatos e crueldade através de readaptações destes instantes por situações menos "traumáticas".
Ao fazer isto, mal Walt sabia que ele estava criando uma espécie de redefinição destas histórias.
Pense comigo por um instante, quando você pensa em Cinderela não pensa automaticamente na mocinha loira, de olhos azuis, vestido bufante da cor de seus olhos e um sapatinho boneca de cristal? E na Ariel? Sempre será a ruivinha de conchas roxas e calda verde, correto?!
Então, os estudiosos que eu disse no começo deste post acreditam que este congelamento dos contos de fadas também seriam os responsáveis pela consagração de estereótipos em relação às figuras femininas e masculinas, entre os quais o mais comum é aquele que representa a princesa sempre esperando o príncipe, além do desconhecimento das histórias originais.
Agora por que será que aconteceu tal "congelamento"? Ou melhor, será que o "congelamento" existe realmente?
De fato a conexão da produção disneyana como elemento determinante das personagens é inevitável, mas algumas coisas precisam ser pontuadas:
1 - as adaptações disneyanas foram as primeiras a darem o elemento visual aos contos. Mesmo que antes os livros infantis já viessem com desenhos ilustrativos, o apelo não era tanto quanto ver um filme inteiro que conta uma história com personagens que de fato fazem aquilo que no livro só se descreve.
2 - É muito fácil culpar a Disney pela estereotipação de personagens, porem esquecemos que assim como acontece em todas as histórias, existe uma influência muito grande do contexto social do momento em que elas são "criadas". No caso dos desenhos mais antigos (Branca de Neve, Cinderela e Bela Adormecida) as personagens foram concebidas em meio a uma série acontecimentos sociais que foram refletidos em suas personalidades, por exemplo a revolução feminina ainda não tinha acontecido, a postura social da mulher era outro (o de ser prendada e boa mae e esposa), assim mesmo como ocorre com as personagens mais recentes (Mulan, Tiana e Rapunzel) que parecem se encaixar no nosso contexto atual de independência feminina e ousadia de mercado.
3 - O caráter pop e de massa que as películas disneyanas possuem é o que dá maior alcance às suas histórias, independente de se trataram de adaptações de contos de fadas, ou de reis leões e 101 dalmatas por terem vazão mundial se tornam referências e isto nada tem a ver com a falta de imaginação ou mesmo dizer que estas versões causam uma falta de imaginação em seus leitores.
4 - É sim possível se desvencilhar dos desenhos "congelados". Se é isto mesmo que se busca. Podemos citar o Shrek 3 que aparecem Cinderela, Branca de Neve e afins princesas com outros perfis. Assim como na série Once Upon a Time que as personagens nada tem a ver com as desenhadas pelas animações da Disney, nem mesmo em seus figurinos (mesmo que a empresa ABC, que produz a série seja da Disney).
E a provacação, foi o suficiente?!
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Um comentário
Ana! Eu acredito que esse "congelamento" é mais visual do que temático, como você mesma falou. Mas mesmo assim, é temporário. Nossa geração sempre vamos imaginar a branca de neve da Disney, mas não podemos saber como vai ser daqui a 30, 50 anos. Talvez um jogo de computador em realidade virtual seja mais relevante para eles. Ou uma boneca robô, vai saber! Eu acredito que cada geração tem sua imagem. A essência do conto provavelmente vai sair incólume de tudo isso, como tem sido há tanto tempo...
Acho!
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