Perveso e tocante ao mesmo tempo, "Clube de Compras Dallas" tinha tudo para cair no completo esquecimento, se não tivesse sido presenteado com as atuações fortíssimas de Matthew McConaughey e Jared Leto, que consagram este longa metragem como algo que valha a pena se assistir. Mas despretenciosamente, importante dizer.
Importante, porque esse foi o meu erro. Criei tantas expectativas ao redor do filme, que quando comecei a assistir quase me desapontava. Quase. Porque lá pelas tantas, o filme que começa como uma versão meio esquisita e misturada de Brockback Mountain e todos os clichês de filmes sobre AIDS, fica bom. Mais precisamente a partir do momento que nos encontramos com Rayon (Jared Leto) nossa visão muda completamente e logo um filme que se arrastava ganha corpo e o personagem de Matthew ganha alma. Jared é quem verdadeiramente brilha no filme, mostrando não apenas uma relação complexa entre orintação sexual e sociedade, mas a forma como isso pode chegar a te destruir. Não, não estou falando que Rayon sofre horrores no filme até encontrar redenção, não. Muito pelo contrário, a personagem é tão intensa e real, que até mesmo a forma como lida com os dramas são bem desenhados e de forma alguma você sente pena dela/dele. Vale ressaltar que a atuação de Jared é tão incrível, que na única cena em que ele aparece com roupas masculinas ele está simplesmente, irreconhecível e é quase uma incongruência com quem ele é no filme.
Da outra ponta estamos com o surpreendente Matthew McConaughey. Surpreendente porque, honestamente, eu sempre achei ele um ator de uma nota só. Sempre fazendo comédias românticas, principalmente aquelas em que ele pudesse aparecer sem camisa, conquistando a Kate Hudson (com quem tem dois filmes) e que seu personagem nada mais é do que um charlatão metido à esperto. Pois é...como a gente pode ficar abobado vendo um ator tendo o papel da sua vida! É, porque se interpretar Ron Woodroof não lhe render um Oscar, acho que nada mais renderá.
Aqui faço uma observação: como está sendo interessante vermos esses atores bonitões, vistos apenas como sex appel, ganhando espaço para experimentar, testar seus limites e se sobressaírem em atuações realmente nobres.
Bom, agora que eu desabafei sobre o motivo pelo qual o filme deve ser assistido, faremos um pequeno resgate sobre o assunto tratado nele: basicamente, "Clube de Compras Dallas" conta a história de Ron Woodroof, um caubói texano, diagnosticado com AIDS em meados dos anos 60. A partir daí passamos a acompanhar o drama (também superação) de Ron em busca da sua sobrevivência e logo depois vemos a sua luta pela liberação de medicamentos auxiliares ao sistema imunológico nos Estados Unidos. Ron é o criador do Dallas Buyers Club, que com uma fachada de clube de caubóis, vendia adesões mensais, as quais os sócios recebiam um coquetel de medicamentos para se manter saudáveis.
A história de Ron é real e de fato ele foi extremamente relevante para a liberação de certos medicamentos nos EUA e ainda dar gás ao questionamento quanto à alguns métodos utilizados naquela época. Ron, que tinha sido fadado a 30 dias de vida, viveu por 7 anos e deve ter ajudado várias pessoas a conviverem com o HIV.
De modo geral, "Clube de Compras Dallas" é um filme bom, com uma temática ok, excelentes atores principais, mas um enredo que não envolve. Não envolve porque a primeira parte do filme passa meio arrastada. Pela época que Ron foi diagnosticado com HIV, sabemos que ele sofrerá com preconceitos -que acreditem, ainda hoje existem-, que será considerado escória da sociedade e que penderá por desistir de viver ou lutar até o final, logo não fica difícil de imaginar o conteúdo dos primeiros 45 minutos do filme. Também é nessa primeira parte do filme, que quase nos faz pensar que teremos pena do personagem pelo resto da história, graças ao seu comportamento auto-destrutivo e a sua relutância em mudar.
A outra uma hora que se segue, que realmente importa. É nela que vemos a cena mais linda do filme (a cena das borboletas), as belas atuações de Matthew e Jared, é nela que o roteiro nos leva a crer em algum tipo de redenção por parte do personagem e é nela que entendemos porque essa história vale a pena ser contada.
Pode parecer estranho, mas com o filme entendemos que nem sempre a redenção significa mudar completamente. Muitas vezes - e como é caso nesta história - a redenção vem com o usar de suas habilidades para fazer algo melhor e maior. Ron é um cara dissimulado, mentiroso e trambiqueiro, que teria morrido sozinho e esquecido, caso não tivesse usado dessas habilidades para levar medicamentos para os EUA. Também seria mais um na multidão, se não soubesse como abordar as pessoas e conseguir investimentos. Mas será que fazer essas coisas não o tornaram um homem mal?
Essa questão eu deixo para vocês responderem.
Ah sim...Jennifer Garner, completamete dispensável e esquecível na história.
"Clube de Compras Dallas" está concorrendo às estatuetas de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Melhor Roteiro Original. Minhas apostas até agora estão em Matthew para Melhor Ator e Jared levando o Oscar de Ator Coadjuvante.
Confira a lista completa aqui.
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