Certa vez em kyoto, havia um rico mercador que tinha uma filha. O nome dela era Ko Shikibu. Ela era bonita, modesta, muito inteligente, e seu pai a amava muito. Ele a tratava com muito carinho e sempre convidava moças de excelentes qualidades para fazê-la companhia.
Numa tarde solitária, enquanto a moça observava a chva de outono pela janela, ela pegou em um sono profundo. De repente, pareceu que um estranho surgiu diante dela segurando um buquê de rosas brancas. Ele estendeu as flores, sem dizer nenhuma palavra. Ko Shikbu, um pouco envergonhada, aceitou as flores, e sorriu. Preso as rosas havia um pedaço de papel com um poema:
Um sonho é tao breve
Quanto a visao do amor
Numa realidade desconhecida
Ela olhou para os versos com admiração. Eram tao adocicados que tocaram seu coração. Que sonho extraordinario!
Na noite seguinte, ao fechar a porta movel para dormir, o mesmo rapaz apareceu em seu quarto. Suas vestimentas eram de um guerreiro, mas seu rosto era tao doce que o coração dela disparou. Ela tentou se mover, mas ele segurou sua mao e começou a lhe dizer sobre seu amor por ela. Ela ouvia, muda em sua agitação.
Quando o galo cantou, ela abriu a os olhos. Quem era aquele homem, que se declarava um escravo do amor?
Daquele dia em diante, a vida de Ko Shikbu mudou. Quando seu amado a visitava, ela era a mais feliz das mulheres. Quando nao, ela passava longos meses vazios, totalmente sozinha. Ela nao tocava mais o koto, nao comia, nao ria. Sua saude definhava visivelmente.
Desesperado, seu pai ofereceu preces para sua recuperação, mas tudo em vao, pois ela permanecia na cama, só pensando no seu amado, morrendo de saudades dele, totalmente incapaz de distinguir a realidade do sonho.
Entao ele ordenou a seus homens que fossem buscar MotoTsuno, um velho monge, um homem santo que vivia ao pé do Monte Shigi. "Ele tem poderes extraordinarios, curará minha filha!" o mercador exclamava consigo.
Felizmente, o monge conseguiu curar Ko Shikbu, e seu pai, com lágrimas nos olhos, prometeu levá-la em uma peregrinação em Ishiyama, o grande templo perto do Lago Biwa.
Quando eles chegaram, Ko Shikbu prostou-se em súplica e rezou fervorosamente. Quando ela terminou, percebeu que nao estava sozinha. Dos homens conversavam na sala ao lado. Ela espiou por uma fresta e quem viu? Sim, seu amado. Parecia que ela voltava a dormir, e que seus sonhos estavam logo ali, apos aquela porta.
Pensando estar sonhando de novo, ela prestou atençao a conversa dos dois.
"Por que você viajou até aqui? Eu nao entendo!" disse um dos homens.
"Eu vou lhe dizer. No ano passado, eu recebi um buque de rosas brancas, com o seguinte poema:
Eu acordo e descubro
Que nosso amor é um sonho.
Pode um sonho tornar-se realidade?
Desde entao, minha vida mudou completamente. De tempos em tempos, eu a visito, mas somente em sonhos. Essa peregrinação seria minha chance de que meus sonhos se tornem realidade."
Ko Shikbu começou a chorar baixinho. Aquele sonho era seu sonho! Aquela realidade era a sua realidade! Ela queria desesperadamente abrir a porta que a separava de seu amado, mas nao era apropriado a uma dama fazê-lo, entao ela se controlou.
Ela esperou silenciosamente até que os dois homens começaram a entoar o Lótus Sutra. Entao ela saiu do templo. Era tarde da noite, e ela nao tinha uma lanterna. Estava tão escuro que ela nao viu o Lago.
Agora ela estava às portas da morte. Num relance, ela se lembrou de sua mae, que tinha morrindo quando ela ainda era uma garotinha. Imaginou a tristeza de seu pai com a perda de sua filha unica. Entao ela rezou para que ela e seu amado pudessem se encontrar na terra pura.
O sol raiou e nem a moça, nem o guerreiro foram encontrados. Procuraram por toda a parte, mas parecia que eles simplesmente tinham desaperecido na noite.
O amor que eles compartilhavam, que tinha florecido em seus sonhos, e sobreviveu sobre as águas negras do Lago Biwa.
Um comentário
Tenso isso, Aninha.
E bonito, muito bonito.
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