Depois do Piloto 7

Tive contato com tanta série bacana esses últimos tempos que tive que colocar no papel as que me chamaram atenção (para o bem e para o mal) e poder comentar com vocês por aqui. Separei, também, as séries por produtores, assim fica mais tranquilo de falar sobre elas. 
Continuando a vibe Netflix, aqui vão três séries produzidas por ela:

Between


Assisti muito mais por curiosidade de ver como eles iriam desenvolver o plot, do que por achar que seria incrível. Basicamente é uma série meio Under the Dome, onde uma cidade toda é colocada em quarentena, por causa de uma doença misteriosa que está matando todo mundo que tem de 25 anos para cima. Eventualmente só quem sobra são as crianças, os adolescentes e os jovens adultos. 
Apesar da premissa interessante, os personagens são sem graça, os dramas são muito adolescentes (de um jeito negativo) e, pelo menos depois do primeiro episódio, os acontecimentos relativos à doença não me deixaram instigada em continuar assistindo.

Juro que tentei gostar, Jennette...

Sense8


Pense numa série que uma porção absurda de gente chegou para mim e disse que eu deveria assistir! Pois é, só perde para a quantidade de pessoas que me indicam insistentemente para ver Game of Thrones...de qualquer maneira, lá eu fui ver a tal da Sense8...achei...nada demais.
Pelo piloto não dá para saber exatamente qual o papo de Sense8, mas ao que parece, depois que uma mulher "pare" uma conexão entre alguns indivíduos no mundo todo (e acaba sendo morta por isso), essas 8 pessoas passam a dividir um laço que os permite se transportar mentalmente e emocionalmente para o lugar do outro e/ou o lugar onde o outro está.
Mas enfim, eu não fui presa pela história, mesmo que a proposta seja peculiar. Os personagens não me chamaram atenção e a confusão de cenas, histórias, lugares e afins me deixaram com sono. Então não, não acho que vá continuar assistindo. 
Proposta bem legal...e...é isso...

Marcella


Se você não reconheceu a lindeza da capa da série, eu te conto quem é: Anna Friel, a incrível atriz que fez a série Pushing Daisies. Lembra?
Pois é, eu comecei a ver essa série por causa dela e olha, fiquei bastante interessada em continuar vendo. Primeiro, porque a sinopse vende meio baixo a ideia por trás da trama. Isso acontece, já que a descrição diz coisas como "ela tem que lidar com a separação com o marido, voltar a trabalhar e suas emoções", só que é bem mais intenso que isso. 
Segundo, porque a Anna tá incrível (mesmo que levemente estranha, depois daquele botox na boca), a personagem é intensa, tem momentos de puro brilhantismo e carrega uma potência emocional que beira o descontrole, além do detalhe da sua clara obsessão por um caso de serial killer. Ao fim, tem um enlace de tempo cronológico e psicológico que eu achei muito instigante e quero saber mais sobre como eles vão desenvolver isso. 
Brava!


Sobre o conflito


Então, recentemente eu descobri que corro de conflitos. Corro do embate, da discordância, do bate boca e da briga. 
Que tenho horror a discussão e por causa disso medio todas as situações para que elas terminem num meio termo morno, de ok para cá e ok para lá.
Convenhamos que conflito briguento não é divertido. Muito menos deixa a gente tranquilo ou feliz. O problema é que quando a gente foge tanto do conflito, acaba deixando para depois o que é preciso ser dito agora. Acaba procrastinando decisões importantes e embates que são necessários, porque é também, através deles que a gente cresce. 
Mas, como dizem as línguas astrológicas, sou regida pelo sagitário e se tem uma coisa que sagitário odeia, é problema.
"Não dê problema para sagitário", li em algum lugar quando falam sobre sagitariano e a síndrome de peter pan, seu senso de liberdade e sua personalidade positiva. Sim, porque ele procura a solução, mas vai atrás do caminho mais limpo, do caminho mais diboísta, do caminho mais mediado e claro, do caminho sem tanto drama.
Porque também odeio drama. Não sei lidar com gente que chora ao ser confrontado, nem com gente que se faz de vítima. Meu ímpeto é o de dar uns tapas e como não pode bater no coleguinha, eu resolvo antes do conflito se tornar animosidade.
Mas tem vezes que o conflito é inevitável. 
E por causa dessas vezes, a gente precisa se preparar para respirar fundo e entrar na arena. As vezes vai doer, as vezes vai deixar a gente magoado e muitas vezes a gente vai perder pessoas ao longo desse caminho, tudo para perceber que, por mais que a gente tente fugir, algumas coisas simplesmente perseguem a gente, até que uma atitude seja tomada.
Por você mesmo.

Feminismo das antigas

Você deve estar lembrado do meu texto sobre a série Agent Carter, não? Que tal o texto sobre Bomb Girls? Se não, então confere lá, porque esse post aqui tem muito a ver com essa, que para mim, é a melhor série da Marvel, e essa outra, que me marcou profundamente na sua curta vida.

Mas de que forma rolou essa inspiração? 
Bom, eu comecei a catar outras séries com temáticas semelhantes para assistir e eis que me deparei com essas duas lindezas que eu vou indicar para vocês. Vem ver!

Miss Fisher's Murder Mysteries


Plot: Ambientada nos anos 20, essa série acompanha a modernosa Phryne Fisher, uma australiana viajada, que tem uma estranha atração por histórias de assassinato, especialmente as que são bem complicadas e enroladas. Phryne é "pra frentex" e não aceita levar desaforo para casa. Na verdade, ela incentiva Dotty e Jane, suas protegidas a serem tão independentes, donas de si e auto-suficientes quanto se é possível.
Solteirona convicta, Miss Fisher adora se envolver com homens para passar o tempo, mas essa diversão não tem qualquer centralidade na sua vida, de modo que seu verdadeiro estímulo é pela luta de igualdade de gêneros e pelo respeito de ser reconhecida pelo que faz de melhor. O que, no caso dela, é praticamente qualquer coisa que ela decida fazer.
É imperdível, porque: tem um charme próprio. Miss Fisher, interpretada por Essie Davis, não é nenhuma garotinha que está começando a aprender a se colocar no mundo. Na verdade é já está lá, jogada dentro dele e pronta para tomá-lo. Além disso, uma das coisas que ressaltei como sendo uma das características que mais gosto na Agente Carter, também aparece em Phryne, que é a sua imposição sem perder o feminino. 
Quantas temporadas: foram três temporadas, com 34 episódios, muito bem escritos e interessantes, com personagens envolventes e uma série de assassinatos bem resolvidos.

The Bletchley Circle


Plot: Durante a segunda guerra mundial, os aliados tiveram a ajuda de diversas mulheres nos trabalhos intelectuais e estrategistas que envolviam a vitória. A Inglaterra segmentava essas funções, sendo uma delas a de decodificação de mensagens interceptadas entre nazistas e é sobre algumas das mulheres que trabalhavam nesse setor que a série se foca.
Apesar de se passar quase 10 anos depois do fim da guerra, a série precisa dessa referência, porque é graças a ela que: 1º essas mulheres se conhecem. 2º essas mulheres sabem se defender e são seguras de si (já que durante a guerra elas salvaram várias vidas e ainda exerciam um papel fundamental para a vitória dos aliados) e 3º essas mulheres conseguem ultrapassar barreiras que nenhuma outra mulher poderia, naquela época e em situações normais (de pressão e temperatura).
Millie, Jean, Lucy e Susan são super diferentes entre si, mas compartilham o Bletchley, a divisão a qual fizeram parte da guerra. Depois de anos elas voltam a se encontrar, quando um serial killer passa a assombrar a Inglaterra e matar jovens mulheres e depois violentá-las sexualmente. Ao perceber que as atitudes dele tinham um padrão e que poderia ser resolvido, caso elas encontrassem o código limpo, elas se debruçam sobre o caso e antigas questões sobre suas personalidades e vidas passam a aflorar.
É imperdível, porque: a começar tem o fato de ser a Inglaterra nos anos 50. Isso para mim já é um enorme turn on, mesmo que essas mulheres não sejam, exatamente, fashionistas. A seguir, são personagens realmente envolventes, com suas personalidades, seus pontos de vistas e suas forças. Por último, mas não menos importante, elas impõem respeito e prestígio entre os personagens masculinos pelo que fizeram durante a Guerra, mas mais do que isso, pelo que são capazes de fazer como pessoas inteligentes e determinadas. 
Quantas temporadas foram: Como em muitas séries britânicas, The Bletchley Circle teve poucos episódios (apesar de longos) e poucas temporadas. Foram duas temporadas, com apenas 7 episódios. Bateu uma tristeza quando acabou...

O escorpião

Já tinha um tempo que eu queria ver esse filme. Ele ostenta, em geral, ótimos feedbacks e, claro, existia a inegável vontade de ver a brilhante Carey Mulligan em ação. Então eu fui lá no netflix e assisti Drive.

A primeira coisa que chama atenção no filme é o silêncio do motorista sem nome, interpretado por Ryan Gosling. Sem deferir grandes diálogos, especialmente na primeira sequência do longa, O Motorista nos conta sobre a sua vida através de seus olhos e do sempre presente palito entre os dentes. Além disso, sua óbvia predileção por ambientes automobilísticos é o tempo todo reforçada, tanto pelo trabalho do personagem, quanto pelas cenas em que ele parece evoluir e se revelar pra gente. O fato do personagem de Gosling não ter um nome definido e ser chamado de 'piloto', 'motorista' e 'dublê', só engrossa o coro de que é um indivíduo que vive para o que faz, que é dirigir.
Está certo que esse ciclo sofre um abalo e se modifica um pouco, mas apenas quando O Motorista conhece Irene (Mulligan), sua vizinha, que é casada com um presidiário e tem um filho pequeno. Eles se sentem atraídos um pelo outro, mas com a iminente saída de Shannon (Bryan Cranston) da cadeia, eles terminam. Mesmo assim, a consideração do Motorista por Irene e seu filho é imensa, de modo que ele não pestaneja em ajudar Shannon a proteger sua família.

A segunda coisa que chama atenção em Drive, é que para um filme de ação, suas cenas são bastante alongadas e sem muitos momentos picotados, nem mesmo em cenas de perseguição, tiroteios e de violência pura. Os personagens são, na verdade, enfatizados nessas cenas e a câmera prefere olhar para eles, ao invés da ação que está acontecendo, o que também 'quebra' o gênero, transformando-o numa obra que se parece com um filme noir, mas sem tantos enquadramentos enegrecidos.
Na verdade, os enquadramentos são particularmente notáveis. Uma vez que o diretor Nicolas Winding Refn apostou em contar esta história também com esse recurso, encaixando os acontecimentos em planos médios, em que as expressões e os olhares são enfatizados; e planos detalhes, onde esses personagens crescem pelo que estão fazendo, não pela violência que infligem. Grande parte da violência, na verdade, se passa no extra-campo. Vemos em diversas cenas a organização de um quadro em que todos os personagens daquela tomada aparecem (o que me lembrou um pouco Cidadão Kane), de modo que é possível ver todos e acompanhar as suas diferentes reações a um mesmo momento.

Além dos enquadramentos, Refn deu espaço para que a fotografia brilhasse, dando um tom estranhamente poético e terno para uma história de assassinato e roubo. As cenas são banhadas por muita luz natural, durante o dia e luzes artificiais durante a noite, sendo que nos momentos de grande violência, o aspecto artificial da luz é enfatizado, já que a iluminação branca toma conta. O sol está presente nas alegrias e o amarelo mostra a clara tendência do Motorista em se envolver naquilo que lhe faz bem, como Irene e seu filho. 
Interessante notar como Carey conta para nós quem é Irene. Ela enfatiza o olhar distante e quase melancólico de uma mulher que passou longos anos à espera da saída do homem que ama, que em certo ponto passou a se questionar se o ama mesmo. Suas mensagens dúbias e potentes são basicamente enfatizadas pelo seu olhar e seu sorriso, que nunca temos certeza se é de felicidade, ou uma profunda tristeza pela vida que leva. Incrível como sempre.
Com todos esses elementos, Drive cresce na tela e prende pelo suspense que vai criando, envolvendo a trama (que apesar de simplória é lindamente contada) e o destino desse piloto sem nome. Pelo filme, a gente fica pensando que os aspectos técnicos, como todos esses enfatizados até aqui, servem para legitimar o trabalho dos atores e do diretor, o que torna Drive um filme imperdível. E a sua presença como quebra do estilo a partir de uma montagem instigante ganha espaço nas indicações da vida.