Bad Blood e outra aula do pastiche*


De Quentin Tarantino a Blade Runner, passando por Sucker Punch e Sin City, até desembocar em Tron e Dollhouse, o novo clipe de Taylor Swift, além de ser uma aula de pastiche, trata-se de uma clara demonstração do que vivenciamos hoje, em termos imagéticos, referenciais e subjetivos. A música é Bad Blood, o clipe é o quarto do novo álbum da cantora que começou no country e hoje dedilha as suas notas numa próxima e bastante híbrida sonoridade de pop e eletrônico. O clipe, alinear e bastante indicial "conta a história" de um grupo de matadoras de aluguel, onde dentro dela Taylor, ou Catastrophe é traída por Selena Gomez, ou Arsyn numa cena tão Matrix que dá vontade de assistir ao filme novamente. 
Tá, mas alguém aqui disse que esse clipe se trata de um 'must' incrível e imperdível de originalidade e criatividade? Não exatamente, justamente porque parece que estamos cada vez mais acostumados com a noção de que referências das referências, imagens de imagens e hologramas de personagens, que não são, exatamente reais, são as grandes 'sacadas' da contemporaneidade. Bad Blood, assim, é uma (outra) aula de pastiche, entre tantas outras no mundo da cultura pop
O que Frederic Jameson chama de Pastiche, são "as referências a conteúdos anteriores, uma imitação que copia o que já fora realizado. Essa referência não critica o anterior, não cria estilos autênticos (como certa estética modernista se propunha), e sim reaproveita a forma e o imaginário que já fora formado sobre esses elementos estéticos para ser reconhecível, digerível." (OLIVEIRA, 2010), sendo exatamente o que o clipe faz, não apenas na sua demasia de referências estéticas, mas nas referências da própria contemporaneidade e seus elementos da cultura pop,  se transformando num desafio esquizofrênico reconhecer cada uma das mulheres que aparecem no clipe transvertidas de personagens como "Dilemma", "Frostbyte", "Trinity", "Destructa X" entre outros. 
Nesse elenco, que os blogs chamam de estrelado, temos representantes do cinema, moda e música, fazendo com que mudemos de repertório com uma rapidez surpreendente e também, como já dito esquizofrênica. Mas que tipo de esquizofrenia estamos falando? Sim, porque o conceito patológico da mesma, não dá conta dessa sensação de presente constante, fluxo contínuo de imagens e cortes constantes. Falamos novamente de Jameson e o seu conceito de Esquizofrenia, já citado aqui no Mesa, quando resenhamos sobre Birdman; Jameson fala da Esquizofrenia de modo descritivo e não patológico, fazendo referência a um indivíduo que vive em um presente perpétuo e por conta disto não consegue se reconhecer em sua própria identidade pessoal, visto que o sentimento de identidade depende do "eu" e de "mim" através do tempo. (JAMESON, 1985; p. 21 a 23, grifo nosso). O "eu" que se perde atráves de uma identidade que não se reconhece em lugar nenhum e que se dilui em reinterpretações ralas de si mesmo. Ralas, no caso do clipe, porque a apresentação de tantas personas na verdade não serve para que uma narrativa seja desenvolvida e sim, se perde na pretensão de "girl power", abusando de um figurino futurista, perucas à lá Toxic e muito couro sintético. Mas nada disso tira o fato de que Taylor faz uma super produção (como tem sido seus últimos videoclipes) e que isso enche os olhos (e o imaginário) dos lovers e chega mais próximo de públicos que curtem referências trash, sci-fi, gamers e outros que podem achar a moça muito girly
Ei, mas não tem nada de errado nisso. Porque se estamos frente a um clipe "pastichado" (com a liberdade poética do neologismo), ele se trata de um, entre tantos outros, e como um bom exemplo empírico do que é o pastiche, Bad Blood também ajuda a pensar nas prováveis razões pelas quais nos perdemos dentro de um contexto de imagens distópicas e demasiadas, mesmo que essa discussão fique fechada na qualidade técnica do clipe e no grudento refrão: "cause baby now we got bad blood..."

*Esse texto faz referência ao texto de Relivaldo de Oliveira, "Lady Gaga, uma aula do Pastiche" publicado no blog do professor e também no Digestivo Cultural em 2010. O professor irá lançar hoje (5 de junho de 2015) o livro da sua Tese premiada "Antropologia e filosofia: experiência e estética na literatura e no cinema da Amazônia” no Hangar, em Belém do Pará. Já que não poderei estar no lançamento, esta foi a forma de homenagear o meu orientador da graduação. 

Referências:
JAMESON, Fredric. Pós Modernidade e Sociedade de consumo. Disponível em: http://migre.me/bfuNs acesso em 19 out. 2010.

OLIVEIRA, Relivaldo de. Lady Gaga, uma aula do Pastiche. Disponível em: http://migre.me/q9zzb acesso em 05 de jun. 2015.

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