Sobre falsas competições*


Isso aqui nunca foi uma competição. Pelo menos não para ela e to achando que também nunca foi uma para você. Mas foi isso que aconteceu. Foi o que eu me peguei percebendo que aconteceu. Justamente porque ela saiu perdendo. Perdendo sem ter podido competir.
Principalmente nessa coisa tão valorizada, que se chama auto-confiança. Sabe, um tipo de sentimento bem parecido com o de auto-estima, se encontrando com a sensação de felicidade sem qualquer motivo aparentemente consumado, daquele ponto que te faz ter a plena certeza de que você e capaz de tudo. 
Você já se sentiu assim?
Ela já.
Mas faz tempo.
E enquanto conversavam, enquanto trocavam ideias e enquanto você a fazia sentir como se ela fosse, verdadeiramente, interessante, ela se sentia auto-confiante. De verdade, mesmo! Daquele tipo de pessoa que você não vê as horas passarem, só para se ter algum tempo para saber como o dia dela foi. Saber se algo de bom alimentou ainda mais as ideias malucas dela sobre o mundo, sobre a natureza e sobre o amor pela 7a arte.
Sim, nunca se tratou de uma competição, mas para o seu azar você realmente não vai descobrir que a bebida favorita dela é Whisky com coca cola. Que o presente que ela sempre quis ganhar são balões coloridos e voadores. Também não vai saber como ela gosta de pipoca com cerveja, vendo um filme que passe de madrugada, enquanto se embrulha com a manta do sofá, deixando tudo aquilo uma bagunça, que ela só vai organizar no dia seguinte. Você também não vai descobrir como ela gosta de rir das coisas mais bestas e que por isso mesmo basta uma boba piada, como a do pintinho que só tinha uma perna, foi caminhar e hahahahaha... 
Então é isso ai, ela perdeu, perdeu uma competição que nem sabia que estava participando. Perdeu uma competição que nem você parece saber que ela estava dentro. Ou, talvez, só quisesse estar querendo participar.
É mesmo assim, ela perdeu algo que nunca foi dela, para começo de conversa, tudo porque acreditava, ainda, que seria possível veres ali, algo que ela mesma tem dificuldade em ver. Na esperança de que pudesses escrever sobre o seu sorriso, sobre a forma como o cheiro do cabelo dela é mais gostoso que Whisky e coca-cola, apesar de você nunca ter entendido o meu, digo, o fascínio dela sobre essa combinação.
Vai um pouco da vontade de acreditar que as coisas mais banais que ela faz, se tornassem inebriantes para você. Mas parece que não, pois assim como ela pensou que você se tratava de alguém que valesse a pena, você não a considerou alguém que valesse a pena dar um salto de fé, de confiança. Ledo engano...
Mas você também perdeu. Que isso fique bem claro!
E pode até ser que ela pense em você como uma das pessoas mais interessantes que ela conheceu, mas eu fui a pessoa mais interessante que você não teve a chance de conhecer...Ou ela...já que o eu verdadeiro ficou em segundo lugar numa falsa competição, voltando para casa com alguns balões, comprados por mim mesma...

*Texto inspirado nos belíssimos de Célio, chamados "Um texto sobre batalhas" e "Ela quer alguém". Curta a fanpage A Copy of Me

Um comentário

Unknown disse...

Essa crônica que você escreveu está linda e perfeita e todo tipo de elogio possível. Você escreve muito bem, parabéns :)