Partindo de uma das coisas que mais nos causam incômodo: nossas hipocrisias; o filme Homens, Mulheres e Filhos, se constrói sobre uma narrativa que se entralaça para dentro de si, ao mesmo tempo em que consegue, de modo quase brutal, ao mesmo tempo em que quase trivial, mostrar situações que poderiam sim, acontecer pertinho de casa.
O mesmo diretor de dois filmes queridos meus, Juno e Amor sem Escalas, Jason Reitman, constrói um filme homônimo ao livro de Chad Kultgen, onde o mote o qual a história se desenrola é a forma como as pessoas se relacionam e como esse relacionamento tem sofrido mudanças por conta das redes sociais e tecnologias móveis. Partindo disso, é que somos levados entre diversos personagens que desfilam suas próprias psicoses contemporâneas, entre elas a necessidade de fazer parte, de ser famoso, de se diferenciar e de ser sempre melhor do que se é, mesmo que só por fora.
A voz de Emma Thompson nos guia através da uma narrativa irônica, à lá Discovery Channel, como se quisesse garantir o nosso olhar sobre a história como se fossem uma espécie que carece ser observada com essa distância de documentário animal, uma vez que precisamos ver que tudo aquilo é digno de notabilidade. Tudo aquilo é digno de espanto. Até mesmo, digno de asco.
Somos confrontados por espelhos distorcidos, que gritam na nossa cara: "estão vendo o que está acontecendo? Somos hipócritas, somos infiéis, somos inseguros e olha o que estamos fazendo com os nossos filhos! Olha o que estamos nos tornando!".
E é assim mesmo, com personagens extremistas, que tem misturadas suas ânsias pessoais (de homens e mulheres) com as de seus papéis dentro do núcleo familiar, que a história ganha corpo. Na mãe superprotetora (Jennifer Garner), na mãe superpermissiva (Judy Greer), no garoto que se considera um nada e sem razão de existir (Ansel Elgort), na menina que sofre de anorexia (Elena Kampouris) e no casal que sofre de problemas sexuais (Adam Sandler e Rosemarie DeWitt). Esse desfile de personagens dão a tônica de feira de vaidades, o qual o filme constrói o seu discurso, só mostra, de modo extremo, o que temos feito com as nossas relações e nossas vidas (de aparências). Será que em meio a isso tudo, uma relação de verdade pode surgir?
Destaque para a interface digital aprimorada de A rede social, que conecta os mundos real e virtual de modo importante e decisivo na narrativa.
Palmas para Ansel Elgort, que consegue transmitir de modo ímpar esse vazio do mundo com tanta gente e tanta informação, onde, cercados por tudo isso, ainda nos sentimos pequenos e sozinhos. Adam Sandler é digno de notoriedade também, uma vez que se destaca em um personagem beirando a auto-piedade, mas que é, definitivamente, um adulto. Afastando-se dos personagens cômicos que ele está habituado a fazer.
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