9 a cada 10 pessoas que cresceram com os desenhos da Disney devem concordar comigo, quando digo que a Malévola é, além de uma das vilãs mais malignas de todo o universo Disneyano, também é uma das mais queridas e divônicas de todos, por isso faz todo o sentido do mundo que, ao nos depararmos com um filme que traz como título o seu nome, como promessa contar uma história não contada e ainda uma série de trailers que nos inebriam, mostrando uma Angelina Jolie forte e elegante, logo nos preparamos para nada menos do que excelência. Principalmente por que a própria Disney assumiu o projeto e trouxe uma versão um tanto quanto corajosa, mesmo que compreensível para os tempos de hoje, quando decidiu desmitificar uma vilã e remitificá-la em uma mártir. A verdade é que se trata de uma tendência praticamente consolidada e na moda, colocar os vilões como humanos e tentar justificar sua vilania com aspectos muito mais cabíveis e identificáveis (vide Once Upon a Time).
Um amor não-correspondido, a perda de alguém importante, ódio, traição, vingança e muitas dores causadas por outro ser, ainda mais cruel que o vilão são alguns dos motivos que levam esses "novos" vilões a se tornarem, no máximo, anti-heróis. E isso não é ruim. Mas não é necessariamente bom. Pelo menos em Malévola não foi excelente.
Primeiro porque o filme prometia um ar mais dark, que pudesse dialogar com uma aura mais torturada e ferozmente vingativa, já que foi isso que nos foi apresentado nos trailers, porém nos deparamos com uma série de mudanças de comportamentos da personagem principal, as quais nos confundíamos se ela era boa, má, um anjo caído ou simplesmente humana. Talvez ela sempre fosse boa e só estivesse passando por uma crise de maldade, ao lançar o feitiço, mas sinceramente este foi o melhor momento do filme. Talvez porque ali conseguimos acessar a verdadeira essencial da uma alma perturbada pelo ódio e traição.
Segundo porque nos deparamos com uma série de gaps no roteiro, que talvez tenham incomodado mais os fãs, mas que pesaram bastante no todo, uma vez que detalhes como o fato da terceira fada não ter nem podido dar o seu presente à Aurora, das fadas serem completamente desmerecidas como cuidadoras da loirinha e do príncipe Philip ter entrado mudo e saído calado, influenciaram para o enredo ter ficado fixo na relação materna de Malévola e Aurora. Essas coisas incomodam tanto, porque as fadinhas foram reduzidas à bobocas personagens, que, se não fosse pela dúbia Malévola, não teriam conseguido cuidar de Aurora; Philip é o que podemos chamar de um príncipe tolinho, que eu pensei já termos superado no mundo da Disney em Encantada, porém não foi o caso. Philip não demonstra coragem, ou força, nem ao menos luta por algo, apenas aparece e beija os lábios da Bela Adormecida em uma tentativa falha de acordá-la de seu sono.
Sim, estamos falando de uma mescelânia de histórias (que faz uma versão, de uma versão), mas a impressão que não consigo me livrar é de que se tratou de uma simples referência, sem profundidade e meio perdida, que acabou perdendo uma excelente oportunidade de recorrer aos diversos contos clássicos, que poderiam auxiliar na hora de transformar esse filme em uma aula de contemporaneidade e também poderíamos não ter ficado naquele óbvio final, que já pela metade do filme já sabiámos que aconteceria.
Calma! Mas o filme não é péssimo e impossível de ser visto e apreciado! Não é disso que estou falado, estou falando de expectativas frustradas! Na verdade são vários os pontos positivos também, principalmente no que se diz respeito à atuação de Angelina Jolie, que conseguiu personificar de maneira impecável uma personagem já enraizada na cultura pop.
A proposta do filme foi completa, recontaram a história sob uma perspectiva ainda não abordada, que é a narrativa de Malévola por cima de uma "simples" história de amor, mas penso que o começo do filme é o que realmente alcança este efeito, uma vez que por mais da metade do longa nos deparamos com uma história que apenas passa o tempo e que peca pela obviedade. De fato conhecemos a Malévola por detrás da história e achei ela bem menos interessante que a da adaptação em desenho.
A Direção de arte e a fotografia são primorosas e mostraram maestria coordenando cenas de tirar o fôlego em composições belíssimas. Desde o castelo, maquiagem, figurino, todos eles contam mais de uma história que ficou diluída em um roteiro muito mais ou menos. Duiaval foi, de longe a humanização mais interessante de um personagem, tornando um mero corvo um ser complexo na medida certa e dando um sentido para a sua presença na história. Palmas para isso!
Por ser Disney, por ser um conto de fadas, sempre quero mais! Sempre vou esperar mais! Compreendo que o filme deveria poder ser visto por pessoas de todas as idades e que isso tenha pesado na hora da construção dessa história, mas a impressão que ficou em mim é a de que ficamos engatados em um rei obcecado, uma princesa doce demais e uma Malévola que fica indo e voltando quanto a sua personalidade. E isso deixou muito a desejar, para um fã e uma disneymaníaca.
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