Vagalumes

Sem saber exatamente como eu me sinto em relação a esse filme, preciso dizer que fazia tempo que não era tão tragada tão intensamente por uma história, como fui por The Disappearance of Eleanor Rigby.

Trata-se de uma intensa narrativa, dividida em 'eles', 'ela' e 'ele', que se passa durante vários anos do relacionamento de Eleanor (Jessica Chastain) e Conor (James McAvoy). Ambos são os protagonistas de juras apaixonadas, cenas de tirar o fôlego (como a incrível cena do carro) e diversas perguntas que demoram tempo demais para serem respondidas. Mas não tempo demais para nós e sim para eles próprios, que parecem separar os acontecimentos entre: antes e depois do desaparecimento de Eleanor, mesmo que tal desaparecimento não seja exatamente o que a gente espera que seja.
Veja bem, trata-se de um desaparecimento muito mais mental e sentimental, do que físico, causado por uma dor irreparável ~no spoiler~ que confunde quem assiste a primeira vez e confunde muito Conor. É a fuga. Uma fuga de si, fuga do outro, fuga do mundo. Esse é o verdadeiro desaparecimento. Quando uma realidade é resumida ao que foi, mas ao que não está sendo. De repente todo mundo quer influenciar no que será...

Com belíssimos jogos de câmera, as cenas são uma mistura da nossa subjetividade com as dos personagens, fazendo-nos termos dúvidas de que ângulos estamos olhando. Este recurso é muito bem auxiliado por uma Jessica e um James afiados, intensos e complexos, bem como estamos ficando acostumados em ver nas suas atuações. Também somos presenteados pela presença de Viola Davis, que consegue ser uma espécie de voz dissonante na mente de Eleanor, que até então estava sendo tomada por todos que queriam que ela "seguisse em frente". 
E parece que não acontece nada! Mas é por isso que temos tempo de nos debruçarmos nas questões mais íntimas dos envolvidos, por isso mesmo, podemos criar opiniões e ao mesmo tempo mudá-las, concordando em como são interessantes esses personagens construídos em camadas, que cumprem os seus papéis em seus próprios tempos e nos embalam no sentimento de busca em que eles parecem estar perdidos.

Assim, o filme caminha de um modo deslinear. Tanto que no começo, somos levados por mais dúvidas do que certezas e no fechamento dessa eu fiquei sem chão. Isto porque fui literalmente lançada em busca de uma conclusão, que não veio e depois recolocada em um momento, um singelo momento que de repente foi se apagando e novamente se acendendo no meio da escuridão silenciosa. Como Vagalumes.
Bravo!

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