Harmonioso Yin-Yang

Com uma delicadeza que emana e uma porção de letras meigas, a dupla de Tocantins Ana e Vitória (ou simplesmente, ANAVITORIA), conquista até o mais duro dos 'ouvidos'.

Quem já perambulou pelo Mesa algumas vezes, deve ter se deparado comigo comentando sobre essas duas lindezas, principalmente no especial 15 em 2015 e no Café para Ouvir #8. Além de lindas, essas duas nortistas (com muito orgulho) tem ganhado cada vez mais destaque, principalmente nas redes sociais, pelas suas obras autorais, suas vozes delicadas e pela forma como cantam sobre o amor e sobre a vida
As duas amigas são naturais de Araguaína e já compartilharam nesse show aqui, que começaram cantando juntas por acaso. Só que o acaso realmente trabalha de formas bem engraçadas. Quando é para ser,  simplesmente é, e para essa dupla, agiu de modo completamente despretensioso, apontando para um enlace gostoso de vozes, em que Ana envolve com o tom suave e Vitória arrebata com a gravidade de quem tem a dizer, juntas elas formam a harmonia indie, pop e ao mesmo tempo bucólico, algo que lembra um pouco o que Sandy tem feito em sua carreira solo, além de Tiago Iorc (a quem a dupla já homenageou com covers incríveis), Tiê, Roberta Campos e outros expoentes da música contemporânea nacional, entre vários outros artistas lindezas como esses.

Depois que o Tiago (olha a intimidade) compartilhou em sua página do facebook o cover da sua música Um dia após do outro, feito pela dupla, elas tiveram quase 1,5 milhão de visualizações em alguns de seus vídeos. De fato, esse compartilhamento foi determinante para elas, que lançaram o EP ANAVITORIA logo em seguida, contendo as músicas autorais Chamego Meu, Singular e os covers Cores, originalmente cantado pela Lorena Chaves e Tenteentender da banda Pouca Vogal. Esse EP virou hit de compartilhamento nas redes sociais e logo Singular e Chamego Meu viraram música de muito casal por aí, tanto que Ana resolveu ir para São Paulo (onde Vitória já morava) para, juntas, tentarem a sorte no meio musical, com a gravação do seu primeiro álbum.

Através do financiamento coletivo, o qual eu tive o prazer de contribuir, elas conseguiram lançar o primeiro disco, com uma porção deliciosa de músicas autorais novinhas (incluindo as duas que já haviam fazendo sucesso anteriormente) e mais as maravilhosas Dengo, Cor de Marte (minhas favorita) e Agora eu quero ir. Com esse álbum e com a repercussão que a dupla teve nas redes sociais, elas conseguiram fechar com a Universal Music e agora a gente pode esperar muitos mais trabalhos e visibilidade para essas duas S2. 
Então, "porque eu deveria parar para ouvir esse duo?", você pode estar se perguntando. Bom, eu posso ser meio suspeita para falar, já que me tornei fã delas a primeira ouvida, mas vou compartilhar os motivos pelos quais eu fiquei encantada: em primeiro lugar elas trazem consigo uma doçura tão potente, que eu fico sempre pensando que precisamos de mais artistas assim no mundo, capazes de nos incitarem as lembranças das atitudes mais boas e nos transmitindo uma enxurrada de sentimentos bons, principalmente se você assiste a um dos vídeos delas cantando, sempre com sorrisos abertos nos rostos e prontas para conhecer o mundo.
Segundamente, elas falam de amor e mesmo que muitos falem de amor, talvez poucos tenham captado dessa essência mais romântica sem ser piegas, em que a maior de todas as belezas está em como o outro te faz sentir, muito mais do que o outro em si (se é que eu me fiz clara). Afinal de contas, eu imagino que uma das melhores sensações em se estar apaixonado, é a de ter alguém te olhando de um jeito singular, te fazer sorrir de orelha a orelha, como o seu corpo se encaixa no da pessoa amada e por fim, mas não menos importante, como ela te prova, te sente, te fita, te enxerga, te cheira e o que ela deixa em você.
Ao final, como uma metáfora de diferentes que se completam e um Yin-Yang bem coordenado, Ana e Vitória são coesas, também compartilham suas diferenças em uma harmonia que deu muito certo, porque essas diferenças são celebradas e ressaltadas. E isso é tão lindo!


Cometas que se encontram

Remember Sunday é uma fofa, porém perspicaz comédia romântica, que tem um princípio semelhante ao de Como se fosse a primeira vez, mas que surpreende pela espiritualidade de seus diálogos e seus personagens.

Como se fosse a primeira vez é o tipo de comédia romântica que costuma agradar a todo mundo. Tem humor, Drew Barrymore, uma boa trilha sonora, personagens engraçados e momentos de pura é total doçura. Além disso, a ideia lindeza de fazer alguém se (re)apaixonar por você todos os dias (e o oposto também) faz com que a gente solte risadas bobas e até core um pouco.
Assim, partindo de um mote em comum, Remember Sunday (Como não esquecer essa garota) tem elementos semelhantes, porém inova com um pouco mais de complexidade em seus personagens e numa metáfora sutil, porém determinante, que é a relação entre ficar preso sem uma memória recente e ficar preso por medo de seguir em frente.
Em Remeber Sunday conhecemos Gus (Zachary Levi), um cosmólogo em seus trinta anos que após um aneurisma perdeu completamente a capacidade de memorizar fatos recentes. Acordando todos os dias em confusão, sua irmã Lucy (Merrit Wever) e seu melhor amigo Jerry (David Hoffman) o ajudam a levar uma vida normal, mesmo que pacata e sem grandes desafios. Até que ele conhece Molly (Alexis Bledel), uma simpática, porém azarada garçonete que tem um verdadeiro amor por flores. Num golpe do destino, ela resolve deixar uma mensagem para ele e a partir dali as suas vidas se cruzam.

Talvez o que mais mereça destaque nesse longa, é a forma como os personagens são apresentados para nós. Diferemente de muitas comédias românticas, Molly e Gus estão longe de serem pessoas e um casal perfeito. Na verdade eles estão entre altos e baixos, confusões, comunicações tortas e sonhos mal acabados. São seres humanos em toda a sua glória, complexidade e tropeços, marcados por diálogos interessantes e despretenciossamente complexos. 
Na verdade, o filme todo é despretenciosamente complexo, especialmente o seu roteiro, que é marcado por reflexões sobre a vida, sobre as nossas ações e sobre como é fácil cair no marasmo da mesmice e estagnação, usando de desculpas prontas e culpando os outros por nossos sentimentos e dúvidas. 
Ressalto que Alexis Bledel está, como normalmente fica, agindo como Rory de Gilmore Girls, mesmo assim, esse tom combinou com a personagem, que apesar de destrambelhada é um doce e apaixonante. Enquanto isso, Zachary Levi (que eu conhecia muito mais pela voz em Enrolados, do que pela carinha), vende muito bem Gus para nós, garotas que adoram uma comédia romântica levinha para passar o tempo. Seu personagem é um daqueles 'dorkadorables', facilmente apaixonáveis, e sua intensa paixão pelos astros é realmente um dos seus maiores atrativos, afinal de contas, quem não quer ter contato com alguém que ainda consegue se encantar com o mundo?!

Vale dizer, que Remember Sunday é indicado para pessoas que querem se divertir na medida certa, mas não para quem quer ver um filme cheio de rebuscamento, na verdade está mais para um daqueles pipocas de final de tarde, num domingo preguiçoso, depois de não ter mais nada para fazer.
Já o final incerto dá o tom de que tudo é possível, uma vez que o ser humano é completamente adaptável e passível de surpreender até o mais cético dos seres.