Jogos, intrigas e laquê

Com uma das traduções mais bem sucedidas que eu já vi, no que se diz respeito à nome de filme, Trapaça lidera as indicações ao Oscar desse ano, juntamente com 12 anos de escravidão e Gravidade. Um filme um pouco superestimado ao meu ver, mas que conquista pela narrativa esperta e as questões que levanta. Definitivamente marca um golaço com o elenco e traz um pouco de leveza ao grupo de histórias tórridas que norteiam a premiação deste ano.

De fato, não poderiam ter escolhido um nome melhor para traduzir o título desse filme no país. A trapaça, seus jogos de esperteza e o envolvimento de cada personagem na tramoia é o que norteia essa história de modo tão amarrado. Um ótimo roteiro, de fato, com diálogos inteligentes e um tom de reflexão que passa longe do afetamento. David, que dirigiu e roterizou a história é realmente digno de atenção e aplauso, ao conduzir a história de Irving Rosenfeld (Christian Bale) de modo tão lúcido. 
Em Trapaça acompanhamos o começo da relação/sociedade de Irving e Sydney (Amy Adams) em um jogo perigoso de apostas financeiras e uso desenfreado da confiança das pessoas desesperadas. É aqui que Richie (Bradley Cooper), um empolgado e afoito detetive do FBI entra em cena, colocando os dois na parede e os obrigando à colaborar com a polícia. Usando da astúcia de Irving, e da esperteza de Sydney, Richie os envolve em uma perigosa rede em que estão em jogo política, máfia e claro, muito dinheiro! 
Correndo por fora, está a tortuosa relação amorosa de Irving e sua esposa Rosalyn (Jennifer Lawrence), que além de imprevisível, é completamente obcecada pelo marido. Rosalyn parece ser apenas uma tolinha, mas na verdade ela entende como ninguém como manipular os outros, principalmente no que se diz respeito a uma manipulação mais sentimental. Falando em Jennifer, vale dizer que, pela terceira vez ela é indicada a um prêmio de Oscar e pela terceira vez a indicação é justa. Jen interpreta uma mulher muito mais velha que a sua idade, mas não faz feio ao passar para nós a impressão de que ela está chegando aos 30 e tudo o que mais quer é ser amada. De fato ela rouba a cena quando aparece e consegue passar uma complexidade de Rosalyn, que talvez com outra atriz não conseguíssemos enxergar. 
Na outra ponta temos Amy Adams, que em toda a sua fragilidade lady like, convence com uma personagem inteligente, bem construida e intrigante. Não sabemos sobre o seu passado, mais do que o filme permite, não entendemos suas motivações claramente (além do desejo de sobreviver), mas com toda certeza nos identificamos em algum nível com ela, já que Sydney é uma mulher. E é isso. Uma mulher. Mérito de Amy.
Quanto aos rapazes, bom, na minha opnião, esta foi a verdadeira excelente atuação de Bradley Cooper. Em Trapaça ele mostra realmente a cara e sai completamente de sua zona de conforto. E isso, eu não estou falando apenas da mudança no visual, mas de um personagem que não está em extremos, ou seja, não é nem engraçado e sex appeal como em Se beber não case, (ou qualquer uma das comédias que ele já fez), nem é pertubado e até abobalhado, como em O lado bom da vida. Já Christian Bale, sempre cotado e magnífico em todos os filmes que eu o vejo, está quase irreconhecível neste longa, onde passa a maior parte do tempo com roupas bregas, óculos cafonas e até usa de um sotaque esquisito para representar esse genioso trambiqueiro. Primoroso.
No que se diz respeito à ambientação do filme, ele dá um show em cenografia, maquiagem e figurino e claro, uma trilha sonora envolvente e que ajuda a contar a história toda. Palmas para clima de jazz e r&b que norteia todo o desenrolar da trama.
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Nessa trama toda, entendemos que o foco do filme está em explorar o que somos capazes de fazer para sobreviver. Isso inclui até mesmo entrar em jogos de esperteza, que muitas vezes pode ser um tiro pela culatra. Já que nessa história não temos mocinhos, apenas momentos de bonzinho e bandido, concluimos que as trapaças estão em todas as partes da vida de qualquer pessoa, sejam nos negócios, no amor e até para si mesmo.
Ao final algumas questões permanecem: Os fins justificam os meios? E quando laços emocionais se intrometem no meio do caminho?

Trapaça concorre às estatuetas de: Melhor filme, melhor ator, melhro atriz, melhor ator coadjuvante, melhor atriz coadjuvante, melhor figurino, melhor diretor, melhor edição, melhor produção e melhor roteiro original. Minhas apostas para esse filme são: melhor atriz, melhor atriz coadjuvante e melhor filme.

Mudanças no Mundo da Disney

O mundo da Disney passou por algumas mudanças nos últimos meses. Principalmente no que do respeito na entrada dos guests, no sistema de fast pass e também no fechamento de algumas atrações que estão em reforma e/ou expansão. E claro, muitas novidades no quesito shows. Então se você está planejando visitar esse mundo no proximo ano, é bom ficar atento quanto a essas pequenas alterações.

A primeira questão é a respeito do ingresso: agora eles usam cartões com chips, que podem ser molhados, são mais difíceis de serem danificados, mas também são mais difíceis de se escreverem neles. Aqui eu recomendo à galera que vai de família e/ou grupo de amigos, que comprem uma daquelas canetas permanentes e/ou canetas de escrever em cd, porque essas não saem. Esse novo ingresso é usado nos parques inteiros, o que significa que papéis adicionais foram eliminados. Inclusive os fast passes.
Agora, para você retirar os seus fast passes, você precisa ir à algum dos totens localizados em lugares estratégicos dos parques, logo eles não são encontrados por atração e sim por estação. Por exemplo: no Magic Kingdom você tem uma estação de totens em cada grande land (tomorrowland, fantasyland e adventureland). O bom desse sistema é que você não precisa esperar uma hora para tirar um novo fast pass e logo no começo da sua visita você ja tem garantidos três passes (que é o máximo por guest). O ruim é que as atrações tem os seus fps acabados mais rapidamente, logo você precisa correr para conseguir fps das atrações mais badaladas, como "Tales with Belle", "Ariel's grotto", "Hall of Princess" ou "Under the Sea". É claro que fica mais difícil consrguir fast past pra todo mundo, quando se está em grupo, ja que o sistema só consegue tirar uma certa quantidade de fps por hora de atração, logo meu conselho aos grupos grandes é que se dividam em dois ou três minigrupos e tentem conseguir a quantidade que querem por partes. É mais complicado separar grupos de 60, mas é mais garantido de conseguir para todo mundo.
Sobre lugares fechados, vale ressaltar o excelente restaurante do Pinóquio, que está em reforma (informando que eu aconselho você a comer longe dali, porque o Storybook Treats tem um péssimo atendimento e se você vai em grupo não vai encontrar lugar para sentar.) 
Aqui vai uma nota importante: se você está pensando em viajar para lá e quer planejar tudo nos mínimos detalhes, baixe o aplicativo "My Disney Experience", que é gratuito e une todas as informações dos antigos apps WDW Maps e WDW Waiting Times. Não fique grilado em correr atrás de planos de roaming, agora o Mundo da Disney oferece wifi gratuito em algumas partes dos parques, o que facilita na hora de escolher qual será sua próxima atração e quanto tempo cada fila está tomando. 
Tirando a parte técnica, uma mudança muito significativa são as reformas nos shows noturnos. Em todos os parques elas sofreram alterações, seja no acréscimo de novas passagens, seja na mudança dos fogos. Talvez o show que tenha sofrido mais modificações seja o Wishes no Magic Kingdom, que sob a égide do "It's kinda fun to do the impossible", uma das frases mais emblemáticas de Walt Disney, (que, inclusive, faz duas aparições maravilhosas no show), fez um dos shows noturnos mais inesquecíveis que eu já vi - batendo o Fantasmic -. Já tem algum tempo que eles usam o castelo como uma espécie de telão, mas dessa vez o show foi para outro nível, quando o próprio castelo interage com os espectadores. 
Sem muito mais detalhes (para deixá-los curiosos), vale a pena dizer que Elsa e Ralph fazem ótimas participações. A música clássica "When you Wish Upon a Star" te lembra o motivo pelo qual você, de pés cansados e esgotado depois de um longo dia no parque, continua ali, firme e forte amando e aproveitando mais uma vez no maravilhoso Mundo da Disney.
Mais uma observação, não se iluda quanto ao "Be our Guest"...praticamente impossível conseguir reserva e a fila para visitação beira a 1h30min.

Charlatão relevante

Perveso e tocante ao mesmo tempo, "Clube de Compras Dallas" tinha tudo para cair no completo esquecimento, se não tivesse sido presenteado com as atuações fortíssimas de Matthew McConaughey e Jared Leto, que consagram este longa metragem como algo que valha a pena se assistir. Mas despretenciosamente, importante dizer.

Importante, porque esse foi o meu erro. Criei tantas expectativas ao redor do filme, que quando comecei a assistir quase me desapontava. Quase. Porque lá pelas tantas, o filme que começa como uma versão meio esquisita e misturada de Brockback Mountain e todos os clichês de filmes sobre AIDS, fica bom. Mais precisamente a partir do momento que nos encontramos com Rayon (Jared Leto) nossa visão muda completamente e logo um filme que se arrastava ganha corpo e o personagem de Matthew ganha alma. Jared é quem verdadeiramente brilha no filme, mostrando não apenas uma relação complexa entre orintação sexual e sociedade, mas a forma como isso pode chegar a te destruir. Não, não estou falando que Rayon sofre horrores no filme até encontrar redenção, não. Muito pelo contrário, a personagem é tão intensa e real, que até mesmo a forma como lida com os dramas são bem desenhados e de forma alguma você sente pena dela/dele. Vale ressaltar que a atuação de Jared é tão incrível, que na única cena em que ele aparece com roupas masculinas ele está simplesmente, irreconhecível e é quase uma incongruência com quem ele é no filme.
Da outra ponta estamos com o surpreendente Matthew McConaughey. Surpreendente porque, honestamente, eu sempre achei ele um ator de uma nota só. Sempre fazendo comédias românticas, principalmente aquelas em que ele pudesse aparecer sem camisa, conquistando a Kate Hudson (com quem tem dois filmes) e que seu personagem nada mais é do que um charlatão metido à esperto. Pois é...como a gente pode ficar abobado vendo um ator tendo o papel da sua vida! É, porque se interpretar Ron Woodroof não lhe render um Oscar, acho que nada mais renderá.
Aqui faço uma observação: como está sendo interessante vermos esses atores bonitões, vistos apenas como sex appel, ganhando espaço para experimentar, testar seus limites e se sobressaírem em atuações realmente nobres.
Bom, agora que eu desabafei sobre o motivo pelo qual o filme deve ser assistido, faremos um pequeno resgate sobre o assunto tratado nele: basicamente, "Clube de Compras Dallas" conta a história de Ron Woodroof, um caubói texano, diagnosticado com AIDS em meados dos anos 60. A partir daí passamos a acompanhar o drama (também superação) de Ron em busca da sua sobrevivência e logo depois vemos a sua luta pela liberação de medicamentos auxiliares ao sistema imunológico nos Estados Unidos. Ron é o criador do Dallas Buyers Club, que com uma fachada de clube de caubóis, vendia adesões mensais, as quais os sócios recebiam um coquetel de medicamentos para se manter saudáveis. 
A história de Ron é real e de fato ele foi extremamente relevante para a liberação de certos medicamentos nos EUA e ainda dar gás ao questionamento quanto à alguns métodos utilizados naquela época. Ron, que tinha sido fadado a 30 dias de vida, viveu por 7 anos e deve ter ajudado várias pessoas a conviverem com o HIV. 
De modo geral, "Clube de Compras Dallas" é um filme bom, com uma temática ok, excelentes atores principais, mas um enredo que não envolve. Não envolve porque a primeira parte do filme passa meio arrastada. Pela época que Ron foi diagnosticado com HIV, sabemos que ele sofrerá com preconceitos -que acreditem, ainda hoje existem-, que será considerado escória da sociedade e que penderá por desistir de viver ou lutar até o final, logo não fica difícil de imaginar o conteúdo dos primeiros 45 minutos do filme. Também é nessa primeira parte do filme, que quase nos faz pensar que teremos pena do personagem pelo resto da história, graças ao seu comportamento auto-destrutivo e a sua relutância em mudar. 
A outra uma hora que se segue, que realmente importa. É nela que vemos a cena mais linda do filme (a cena das borboletas), as belas atuações de Matthew e Jared, é nela que o roteiro nos leva a crer em algum tipo de redenção por parte do personagem e é nela que entendemos porque essa história vale a pena ser contada.
Pode parecer estranho, mas com o filme entendemos que nem sempre a redenção significa mudar completamente. Muitas vezes - e como é  caso nesta história - a redenção vem com o usar de suas habilidades para fazer algo melhor e maior. Ron é um cara dissimulado, mentiroso e trambiqueiro, que teria morrido sozinho e esquecido, caso não tivesse usado dessas habilidades para levar medicamentos para os EUA. Também seria mais um na multidão, se não soubesse como abordar as pessoas e conseguir investimentos. Mas será que fazer essas coisas não o tornaram um homem mal?
Essa questão eu deixo para vocês responderem.
Ah sim...Jennifer Garner, completamete dispensável e esquecível na história.

"Clube de Compras Dallas" está concorrendo às estatuetas de Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Melhor Roteiro Original. Minhas apostas até agora estão em Matthew para Melhor Ator e Jared levando o Oscar de Ator Coadjuvante.
Confira a lista completa aqui.

A.A - Amor Artificial

Um filme verdadeiramente contemporâneo, com questões que poderão se tornar nossas futuramente e resgatando pontos já abordados outras vezes de forma menos sutil e menos "comum". "Her" ou "Ela", trata de um homem e seu amor por um máquina. 

Num primeiro momento, "Her" parece um daqueles filmes psicológicos e até mesmo complexos demais para ser assistido de modo despretencioso, mas a verdade é que ele surpreende por sua sutileza e principalmente pela facilidade com que ele se torna relacionável. Para que você entenda o que eu quero dizer com isso, vale situar do que se trata esta envolvente narrativa: Num futuro, não muito distante, nos encontramos em uma sociedade rodeada por altas tecnologias e sistemas computadorizados e conectados, de forma que nossa casa, nosso trabalho e até mesmo nossas relações interpessoais se tornam online. É um futuro onde os desktops são multifuncionais e na verdade funcionam como um centro nervoso. Dito isso, fica mais fácil entender como Theodore (Joaquin Phoenix) decide comprar um Sistema Operacional que promete ter inteligência artificial e se adaptar facilmente ao seu dono. Samantha (Scarlett Johanson), assim, entra em sua vida.
Theodore é um homem solitário e se sente fracassado porque o seu casamento não deu certo. Apesar de ter uma amizade verdadeira com Amy (Amy Adams), ele quase não cria laços com ninguém e na verdade evita tal contato. Sua profissão (Theo é escritor de cartas de amor), apesar de adocicada e de levar amor e sentimentos para outros, parece para ele algo sistemático e até mesmo distante. A verdade é que Theodore não sente nada faz tempo e apenas quando Samantha entra em sua vida, as coisas parecem mudar de verdade. Samantha é uma voz, sempre uma voz e nunca um corpo, que conversa sobre questões íntimas com Theodore, criando um laço profundo com ele, de forma que os dois engatam num relacionamento verdadeiro, apesar de não físico. Vale ressaltar esta questão, pois em momento algum desacreditamos que o relacionamento dos dois é real, muito menos achamos que é impossível. Talvez esse seja o grande mérito de seu enredo, pois nos envolvemos na história de amor deles dois, como nos envolveríamos em qualquer outra história de amor. 
Também devemos ressaltar o mérito de Scarlett Johanson em segurar uma personagem sem corpo. Fato é que ela é a verdadeira estrela desse filme, porque com maestria ela dá à Samantha muito mais do que uma personalidade, mas uma personificação humana, quase crível pela sua sagacidade, humor e sensibilidade. Com certeza é um dos melhores papéis de sua carreira. 
Sim, "Her" é um filme basicamente falado. Com diálogos intensos, sinceros e significativos, que nos levam a crer que esse futuro será possível, já que este futuro não é caricaturado, com roupas metálicas e carros voadores. São mudanças mais sensíveis, sendo quase simples nos enxergarmos nesse meio, onde conversamos com máquinas como se fossem nossos melhores amigos e onde palavras geram sensações reais, dando assim, talvez, um retorno à imaginação. 
Simbolicamente o celular sempre no bolso esquerdo de Theo, abre caminho para uma discussão sobre até que ponto é necessário ver para sentir, tocar para que seja real. E já que as experiências são muito mais do que o tato, o filme fala demasiadamente da verdadeira vontade de se jogar e de aprender, "É bom estar ao redor de alguém que se encanta com o mundo", Theodore fala em certo momento e assim compreendemos que estamos frente à uma história de amor com limitações, complexidades, mas um amor mais real do que temos visto nos últimos tempos. É artificil, mas nem um pouco plástico.
Se você gostou de "Her" deve achar interessante a história de "Chobits"

"Her" concorre às estatuetas de Melhor Filme, Trilha sonora, Melhor canção original, Melhor produção, Melhor Roteiro Original. Atualmente é o meu candidato favorito para Roteiro Original.